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Falta de emprego leva recém-licenciados a abandonar o concelho

Jovens ouvidos por O INTERIOR dizem que a vontade que têm de ficar na terra que os viu nascer não é suficiente para combater a falta de perspetivas profissionais

Numa altura em que a taxa de desemprego afeta maioritariamente os jovens, o concelho de Vila Nova de Foz Côa não é exceção. São muitos os recém-licenciados que procuram o primeiro emprego. Apesar de se tratar de uma cidade rica em turismo e agricultura, as oportunidades de trabalho noutras áreas são muito limitadas para quem acaba de concluir o curso.

Segundo Pedro Nevado, de 27 anos, a terminar a licenciatura de Arquitetura Paisagista, «o concelho não oferece oportunidade de desenvolver determinadas competências por falta de oferta de empregos em diversas áreas e devido à falta de investimento na região». Para ele, as perspetivas de ficar na terra são muito desanimadoras e quase nulas e, apesar do concelho ter bastante potencial, esta área ainda «passa um pouco despercebida e é considerada sem utilidade». Também a concluir estudos em Arquitetura, Carolina Fernandes, de 23 anos, considera que «a emigração é um dos caminhos mais apelativos nesta altura», em que o setor da construção está em forte recessão. Por sua vez, Emanuel Carneiro, também de 23 anos, é licenciado em Engenharia de Energias Renováveis e foi obrigado a estabelecer-se na terra natal contra a sua vontade para um estágio profissional. «Tomo isto apenas como um ano de experiência», refere a O INTERIOR.

Quando terminar, pretende abandonar a cidade, uma vez que «não existe nenhuma empresa no ramo, os serviços não contratam profissionais da área e pelo momento que atravessamos, pelas condições oferecidas neste meio, é impossível para um jovem recém-licenciado trabalhar por conta própria ou criar uma empresa devido aos custos que acarreta», sublinha. Já André Ferreira, de 22 anos, estudante de Medicina, apesar de ter facilidade em arranjar emprego na sua área, descarta o regresso a Vila Nova de Foz Côa por considerar que esta opção acabaria por «me estagnar profissionalmente, não tendo progressão de carreira». A diminuição da população no concelho provoca simultaneamente um enfraquecimento das oportunidades: «Se existe desertificação, por muito que nos queiramos fixar em Foz Côa, as oportunidades fogem com as empresas, que também fogem daqui. É um efeito “bola de neve” que tem de ser travado enquanto é tempo», afirma Rui Pimenta, de 23 anos, licenciado em Gestão.

Este problema «acaba por estar interligado com a escassez de escolhas profissionais, uma vez que com a falta de oferta de trabalho, as pessoas são obrigadas a sair e procurar soluções para a sua vida, o que origina também uma quebra na economia local», acrescenta Pedro Nevado. Para estes jovens a vontade de ficar na terra que os viu nascer é imensa, no entanto, não é suficiente para combater a falta de perspetivas profissionais. Mas, afinal, o que pode ser feito para os fixar numa região que tem sofrido um aumento de desertificação? Para Emanuel Carneiro, «isso só já depende dos licenciados, que para voltarem têm de ter estudado a licenciatura correta, pois já não acredito que alguém com cargos superiores seja capaz de modificar essa corrente que se criou». Já Rui Pimenta lembra que «o investimento no interior é cada vez mais limitado, seja por dificuldade de transportes, mão-de-obra qualificada ou por outro motivo qualquer. É necessário fixar jovens, dar-lhes oportunidades e boas condições de vida para que haja uma repovoação do interior. Venham de onde vierem, são as oportunidades que nos fazem falta para ficarmos por aqui».

Atualmente, esta é uma realidade que atinge não só os jovens fozcoenses, como tantos outros portugueses que têm o objetivo de evoluir profissionalmente e são forçados a abandonar a sua região ou até o país.

«Por muito que nos queiramos fixar em Foz Côa, as oportunidades fogem com as empresas, que também fogem daqui», diz Rui Pimenta (segundo à esquerda na foto)

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