«Um homem de grande valor, intelectualmente acima da média e extremamente corajoso». É deste modo que os amigos recordam o antigo segundo comandante-geral da GNR Augusto Monteiro Valente que morreu na última segunda-feira, aos 68 anos. O major-general do Exército na reserva, que tinha ligações familiares ao concelho de Almeida e afetivas à Guarda, foi encontrado morto na sua casa, em Coimbra.
Amigos do falecido disseram à Lusa que o “militar de Abril”, que integrou o Grupo dos Nove, de Ernesto Melo Antunes, foi encontrado morto ao início da noite de segunda-feira em «circunstâncias trágicas» ainda por esclarecer. José Pires Veiga, antigo aspirante a oficial e alferes do Regimento de Infantaria 12, no quartel da Guarda, recorda o seu antigo comandante como um «homem bom e íntegro que procurou trabalhar para o bem público e comum»: «Os seus princípios e o seu exemplo fizeram dele um líder que era, ao mesmo tempo, um amigo que muitos de nós sempre fomos seguindo em encontros ocasionais. Na mudança do regime do 25 de Abril em tudo arriscou porque ele era um profissional do Exército e já tinha havido vários golpes», sustenta o amigo do “capitão Valente”, como era conhecido na Guarda. O antigo militar recorda que o malogrado major-general casou na Miuzela, concelho de Almeida, onde era presidente da Comissão Instaladora da Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto. Pires Veiga frisa que «embora tendo nascido em Coimbra», Monteiro Valente era «também um amigo da Guarda e da região e envolveu-se na vida cívica da nossa região», lamentando que tenha falecido «novo», sendo uma perda «para a Guarda, mas também para o país». De igual modo, Abílio Curto recorda com saudade o antigo comandante do Regimento de Infantaria 12: «Curvo-me perante a memória do “capitão Valente”. Para nós, guardenses, democratas, antifascistas e republicanos, é um símbolo do 25 de Abril e da liberdade». O antigo presidente da Câmara da Guarda recorda a relação de «respeito e admiração» que tinha com Monteiro Valente, que considerava ser um «homem de um grande valor, intelectualmente acima da média e extremamente corajoso». De resto, Abílio Curto garante que o antigo militar «nos deixa física e intelectualmente, mas perdurará nas nossas memórias».
Nascido em Coimbra, em 1944, exerceu na GNR os cargos de comandante da Brigada Territorial 5 (1999-2001), inspetor-geral (2001-2002) e segundo comandante-geral (2002-2003). Presidente da delegação regional do Centro da Associação 25 de Abril, Monteiro Valente era investigador associado do Centro de Documentação 25 de Abril e do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, ambos da Universidade de Coimbra, e colaborador da Revista Militar. Manteve ainda intensa atividade cívica como especialista em questões militares, não esquecendo o estudo do republicanismo e das revoltas militares de resistência à ditadura de Salazar e Caetano. Incorporado na Academia Militar em 1963, terminou a licenciatura em Ciências Militares – Infantaria três anos depois, tendo passado à situação de reserva em 2003. Entre outras formações superiores, era licenciado em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde concluiu uma pós-graduação em Estudos Europeus. Nos últimos anos, Monteiro Valente empenhou-se na preservação da memória do general Gastão Sousa Dias, sendo autor de uma biografia deste democrata e antifascista, publicada pela Câmara da Guarda, no âmbito da coleção “Gentes da Guarda”.
Ricardo Cordeiro