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FALAR CLARO

Anabela Lamelas, professora Coordenadora da IPPEB

Que alterações trazem os novos programas de Português do 7º ano em termos de aprendizagem dos alunos e competências a adquirir?

O PPEB apresenta uma matriz comum aos três ciclos do ensino básico, valorizando o princípio da progressão (articulação vertical), obrigando a planificações por agrupamento, ao conhecimento aprofundado do ciclo anterior e do seguinte e à revisão constante das anualizações; a sua estruturação centra-se nas competências específicas (Compreensão do oral, Expressão oral, Leitura, Escrita e Conhecimento explícito da língua – CEL); revela, ainda, uma natureza inovadora no tocante ao reforço do papel da oralidade, do CEL e das TIC (estas ao serviço das competências específicas, em vez de constituírem uma “atividade-vedeta”). Neste sentido, o aluno será, cada vez mais, a “estrela” da sala de aula, ou seja, deve ser levado a aprender a aprender, tendo em vista uma tarefa/projeto, tornando-se, progressivamente, mais autónomo. O aluno deve terminar o ensino básico dominando o português padrão, preparado para interagir em diferentes situações de comunicação, oral e escrita, mas também sabendo reconhecer o valor do texto literário e sabendo descodificá-lo. A este nível, privilegiam-se as obras inseridas no Plano Nacional de Leitura.

Que coordenação e preparação houve na implementação dos novos programas? E está a haver coordenação regional e nacional?

No ano letivo de 2009/2010, a DGIDC solicitou que as escolas indicassem um professor para receber formação, no âmbito da Implementação dos PPEB, ao longo de todo o ano letivo, para que, por sua vez, pudesse orientar os colegas na aplicação dos referidos programas. Todavia, houve escolas que não enviaram ninguém para formação; outras, como a nossa, não conseguiram disponibilizar os noventa minutos indicados pela DGIDC para reuniões de trabalho, nem nesse ano, nem no transato. A Implementação acabou, entretanto, por ser adiada para o presente ano letivo, a fim de entrar em vigor juntamente com o novo Acordo Ortográfico. Até ao momento, não recebemos qualquer informação/orientação no que respeita à implementação do PPEB.

O Dicionário Terminológico avançou no 7º ano?

Depois de um interregno na aplicação no Ensino Básico, o DT entrou, também, em vigor. A sua implementação será progressiva e gradual, dependendo dos conteúdos e do critério da progressão interciclos. Há conceitos que entram agora no 7º ano, mas que serão desenvolvidos ao longo do 3ºciclo com mais pormenor.

As atividades estão repartidas de modo mais rigoroso entre as diversas competências? Ou há algumas que continuam a ter mais relevo?

Trabalhar por competências implica que o aluno saiba o que faz, porquê e como. O processo é explicitado, não só o fim. Introduz perspectivas metacognitivas no ato de aprender. Neste sentido, o trabalho sobre a CO (Compreensão Oral), a EO (Expressão Oral), a Leitura e a Escrita articula-se com os diferentes planos do CEL. Os conteúdos do CEL deverão ser considerados alicerces indispensáveis ao aperfeiçoamento dos desempenhos nas outras competências e objetos de aprendizagem em si mesmos. Esta competência será, então, trabalhada em conjunto com as outras, mas também de forma isolada, criando-se momentos específicos para o efeito. Em qualquer sequência didática, haverá sempre uma competência-foco e competências de processo.

As práticas dos professores têm que mudar relativamente aos anteriores programas?

As dinâmicas de escola são, efetivamente, uma das grandes dificuldades. Há dois riscos essenciais em que podemos continuar a cair: o excesso de burocratização, associado à falta de tempo para planificar de forma conjunta; por outro lado, a inexistência, generalizada, de hábito de partilha de materiais e experiências. Inconscientemente, os professores continuam a seguir modelos e práticas já muito arreigados, fruto de largos anos de docência. A planificação das sequências didáticas implica muito tempo despendido, já que as mesmas devem ser formuladas passo a passo, atendendo à articulação das diferentes competências. Também a forma como os conteúdos de CEL devem ser lecionados é inovadora, devendo o professor criar momentos específicos para os trabalhar autonomamente.

E os professores sentem-se preparados?

Este ano letivo afigura-se bastante difícil por uma série de contingências, nomeadamente estarmos a trabalhar o novo PPEB, que ainda não dominamos, juntamente com o DT e o Acordo Ortográfico. O facto de só se ter conseguido criar um momento comum de apenas quarenta e cinco minutos semanais é limitador do trabalho em conjunto dos professores que lecionam o 7º ano. Também a metodologia na preparação e execução das aulas exige muito tempo, bem como a exploração de um novo manual. Julgo que a falta de formação se faz sentir mais ao nível da preparação de sequências didáticas nos moldes que o programa prevê.

Os alunos sentem as mudanças? Como reagem?

Para já, as reações notam-se mais ao nível do Acordo Ortográfico, uma vez que receiam ter grandes dificuldades em reaprender a escrever determinados vocábulos. Quanto ao DT, estranharam, como é natural, a mudança de nomenclatura em alguns conteúdos de CEL lecionados até agora, como a subclasse do nome.

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