A Eurosim, produtora de componentes mecânicos de segurança sediada no parque industrial da Guarda desde 1991, teve uma «morte natural e sem qualquer dor». O diagnóstico é de Rafael Pereira, advogado da sociedade, para quem não há volta a dar depois do último e único cliente da empresa ter passado a comprar «mais barato» no extremo Oriente as porcas para automóveis produzidas na Guarda. O fim da Eurosim também não apanhou de surpresa os seus 38 trabalhadores, apesar da empresa fechar as portas sem dívidas, com os seus compromissos salariais em dia e o desejo de «respeitar todos os direitos dos funcionários», garante o causídico.
Um fecho quase de comum acordo e sem manifestações ou contestação, o que é inédito nos tempos que correm. A porta-voz da comissão dos trabalhadores, Cecília Mendonça, sublinha que toda a gente estava a prever este final, embora todos tenham alimentado «alguma esperança» de que a fábrica durasse «mais uns três, quatro meses e sempre na expectativa de que ainda pudesse recuperar ou que alguém quisesse ficar com a empresa e fosse a nossa salvação». Mas tal não aconteceu e o fim da laboração da Eurosim é agora um «acto irreversível», adianta, receando pelo futuro dos trabalhadores, cuja a idade média rondará os 40 anos, numa cidade onde escasseiam as alternativas de emprego. «Há muito pouco trabalho na Guarda», confere, prenunciando tempos difíceis para quem foi investindo em casas e carros. De resto, Cecília Mendonça adianta que a maioria dos funcionários terá aceite a proposta de rescisão da empresa, que terá oferecido um mês e meio de salário por cada ano de trabalho na Eurosim. Indemnizações superiores «ao previsto na lei», sublinha Rafael Pereira, para quem o grupo não tinha condições para absorver os operários da Guarda noutras unidades da Alcoa, uma multinacional de componentes para automóveis.
«A empresa chegou a um limite e, definitivamente, não tem condições para continuar a produzir a preços concorrenciais. É muito complicado manter projectos sem grande inovação tecnológica ou valor acrescentado, porque os nossos concorrentes batem-nos em toda a linha na questão do preço», explica o advogado, dizendo que a sociedade que deu origem à Eurosim vai agora ser dissolvida. Os trabalhadores têm assegurado a indemnização, as férias, o subsídio de férias e o acesso ao subsídio de desemprego, tendo ficado claro para todos que o encerramento da empresa «é preferível» a começar a acumular vencimentos em atraso. «Numa altura em que a empresa começa economicamente a não ser viável, os seus responsáveis tomaram a decisão de proceder ao fecho e impedir qualquer situação de ordenados em atraso. Não está na mente destes responsáveis que isso pudesse acontecer», realça o advogado. Assegura, por outro lado, que a Alcoa «não está interessada em negócios imobiliários» mas vai comportar-se como qualquer empresa que, por cessar a sua actividade, «desocupa um espaço na perspectiva de retirar dele algum proveito». Uma declaração que poderá ou não tranquilizar Maria do Carmo Borges, que já mandou analisar os termos da cedência do terreno à Eurosim «para saber em que moldes é que foi transferido para aquela empresa» e salvaguardar, se for caso disso, os interesses do município nesta fase. A autarca da Guarda admitiu que o fecho de empresas na Guarda já começa a ser preocupante: «Espero que o Governo tome rapidamente uma posição e encaminhe também para a Guarda outros investimentos que hipoteticamente tenha em mãos para fazer face ao que está a acontecer. Já estamos preocupados com a Gartêxtil, onde passa o tempo e não há nada de novo, acontece agora este encerramento, o Governo vai ter que ajudar-nos a criar alternativas de emprego noutras áreas», espera Maria do Carmo.
Luis Martins