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Crónica Política

Escrever sobre o que aconteceu no domingo passado para um jornal que sai ao meio da semana não é fácil. Já tudo, ou quase tudo, foi dito e escrito ao longo destes últimos dias. Mas este é, nesta semana, um tema incontornável.

A elevada abstenção e a particularidade destas eleições devem-nos tornar previdentes em relação à análise dos resultados e às suas correlações a atos eleitorais passados e futuros.

No entanto…

Estou contente porque o “meu” PS é de novo o 1º partido português.

Por mais que alguns, principalmente oriundos do PSD e do CDS, queiram negar a realidade, foi uma vitória do Partido Socialista sem margem para dúvidas, que todos gostaríamos que fosse mais expressiva. Nos tempos que correm nesta Europa para a social-democracia/socialismo, foi um dos melhores resultados dos socialistas europeus, o que deve pesar na análise a fazer à liderança dos socialistas portugueses.

Embora haja muito a fazer para que a política seja novamente credível e o PS possa atrair muito do descontentamento com o atual Governo, ele é o único partido à volta do qual se poderá construir uma alternativa de maioria a este Governo.

A coligação PSD/CDS, digam o que disserem, sofreu uma derrota estrondosa. Uma derrota histórica dos partidos que apoiaram o atual Governo. Juntos em eleições europeias, nunca PSD e CDS tiveram menos 33% e o PSD nunca teve menos de 31%. Esta derrota é a derrota das políticas mas também, e fundamentalmente, a derrota das mentiras e das promessas não cumpridas.

O MPT, partido tipo “barriga de aluguer” – já o tinha sido anteriormente no distrito da Guarda, tem um resultado muito bom graças ao discurso direto e contundente de Marinho Pinto. Capitalizou os votos dos descontentes com o funcionamento do sistema político e dos partidos. Será fenómeno para manter e ter repercussões nas eleições legislativas ou presidenciais? Não sabemos, mas que é um alerta, que somado ao que aconteceu com os ditos movimentos independentes das últimas autárquicas, a merecer reflexão lá isso é.

De notar ainda que a CDU teve um bom resultado, aumentou o número de mandatos, o que era expectável face ao contexto político e social em que vivemos e que o BE teve uma derrota que o remete, na minha opinião, para o seu real valor sociológico. Como passou a fazer parte do “sistema”, os descontentes com a política que capitalizava “fugiram” desta vez para Marinho Pinto.

No distrito os resultados estão na linha do que aconteceu a nível nacional. A Coligação derrotada e o PS ganhador.

No concelho da Guarda o PS ganhou, com uma diferença mínima, mas ganhou. Com melhores resultados na área rural do que na urbana… mas ganhou. Depois do que aconteceu nas últimas autárquicas esta vitória sabe muito bem.

Podemos daqui tirar ilações? Obviamente que houve em muitas freguesias rurais resultados muito positivos que se devem também ao empenho dos magníficos autarcas do PS. É possível que haja já algum descontentamento com o comportamento do atual executivo municipal, mas repito o que escrevi logo no início deste artigo: «A elevada abstenção e a particularidade destas eleições devem-nos tornar previdentes em relação à análise dos resultados e às suas correlações a atos eleitorais passados e futuros». E é sempre bom ter presente que no Concelho da Guarda houve anos em que entre períodos temporais muito curtos o eleitorado dava maiorias nas eleições nacionais a um partido e nas locais a outro.

Naturalmente que, e isto serve para o nacional e o local, “candeia que vai à frente alumia duas vezes”.

E a abstenção? Mais uma vez elevadíssima, recorde desta vez, a nível local maior que o nacional, mas nada de muito diferente do que tem acontecido nos últimos atos para o Parlamento Europeu. E nada de muito diferente do que acontece no resto da Europa.

Mas declarações só de preocupação cada vez que há eleições e depois, quer na vida interna partidária, quer na relação com a sociedade, continuar tudo na mesma, ou quase, é mesmo preocupante para o futuro da democracia…

Temos de ter a coragem de mudar o funcionamento partidário e o sistema eleitoral ou a democracia estará em causa. Temos essa obrigação e esse dever. Temos de aproximar as pessoas da política e temos de fazer uma reforma radical do sistema eleitoral nacional e europeu.

E temos, fundamentalmente, que HONRAR A PALAVRA!

Por: Fernando Cabral

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