A crise política italiana não afetou os investidores na dívida na zona euro durante a semana. Descida acentuada do prémio de risco e dos juros da dívida em Portugal, Espanha e Itália.
A semana foi marcada por uma descida acentuada do prémio de risco da dívida de Portugal, Espanha e Itália. As yields das obrigações soberanas a dez anos dos três países desceram, também, significativamente. O risco de incumprimentos das dívidas dos três “periféricos” baixou.
O movimento foi sincronizado nos três países nos três indicadores. A descida para Portugal foi significativa.
Descida portuguesa significativa
O prémio de risco – que mede o preço extra que a República Portuguesa paga quando se financia em relação à Alemanha – desceu de 4,97 para 4,41 pontos percentuais entre 1 e 8 de março. Afastou-se do máximo do ano de 5,11 pontos percentuais a 26 de fevereiro (quando se conheceram os resultados eleitorais em Itália) e reaproxima-se do mínimo de 4,28 pontos percentuais fixado em 23 de janeiro, no dia do chamado regresso aos mercados (obrigacionistas), segundo dados da Datosmacro.
As yields das obrigações do Tesouro português a dez anos desceram de 6,38% para 5,94% no período referido. Ainda não atingiu o mínimo do ano de 5,82% a 23 de janeiro. Mas afastou-se do máximo de 6,56% a 26 de fevereiro. A probabilidade de incumprimento da dívida portuguesa num horizonte de dez anos desceu de 29,61% para 26,93%, segundo dados da CMA DataVision, já significativamente abaixo dos 28,5%, do dia de “regresso aos mercados”. No entanto, o país mantém-se na oitava posição no “clube” das 10 economias de maior risco de default.
A Irlanda encontra-se já em outro campeonato com a probabilidade de incumprimento da dívida abaixo de 13% e sem transacionar obrigações a dez anos, pelo que não entra nas comparações do prémio de risco. As yields das obrigações reestruturadas gregas a dez a nos desceram de 11,04% para 10,55% entre 1 e 8 de março e a probabilidade de incumprimento da Grécia e de Chipre desceram ligeiramente nesse período, continuando a Grécia a liderar o “clube” das 10 economias de maior risco e Chipre (que continua a negociar um resgate com a troika) mantém-se em terceiro lugar.
Corte de notação de Itália não fez estragos
A crise política italiana – cujo novo parlamento reabre a 15 de março e a incerteza sobre a possibilidade de formar governo ou recorrer a novas eleições permanece – não afetou o “comportamento” dos investidores na dívida dos três “periféricos”.
Nem mesmo o corte de notação da dívida italiana pela agência Fitch para o nível de BBB+ (similar ao já anteriormente dado pela Standard & Poors’), um nível ainda acima do estado de “dívida especulativa”, provocou ondas, apesar dos analistas italianas sublinharem que muitos fundos de investimento vão deixar de poder comprar obrigações do Tesouro italiano. O prémio de risco da dívida italiana desceu de 3,38 pontos, a 1 de março, para 3,07 pontos percentuais, a 8 de março. As yields a dez anos das obrigações do Tesouro italiano caíram de 4,79% para 4,60%, no mesmo período. A probabilidade de incumprimento da dívida italiana – com um mercado de credit default swaps muito ativo – desceu de 21,86% para 19,8%, mas continua à frente da espanhola.
Espanha seguiu o mesmo padrão durante os sete dias de negociação em apreço: o prémio de risco desceu de 3,69 pontos percentuais para 3,23; as yields das obrigações espanholas a dez anos baixaram de 5,1% para 4,76%; e a probabilidade de incumprimento caiu de 21,2% para 19,4%. O Tesouro Público espanhol fez uma colocação de dívida a dois, a cinco e a dez anos arrecadando 5030 milhões de euros que correu bem, segundo os analistas. Na emissão a dez anos, conseguiu pagar uma taxa média de 4,95%, inferior a 5%, pela primeira vez desde novembro de 2010.