Somos um País de excessos. “Quem vai ganhar?” e ” Quem é que marca os golos?” As duas perguntas são feitas a eito a todos os que aparecem à frente dos omnipresentes “repórteres” portugueses. Tanto faz que se esteja na praia, numa esplanada ou a desempenhar a mais trivial das tarefas do dia a dia. Quem vai ganhar? Quem marca os golos? E o pior é que as pessoas embarcam na história. Alguns param um pouco (será para ver se a inspiração dos deuses lhes chega?) antes de arriscar o prognóstico, outros têm a resposta na ponta da língua. Ganha este ou aquele e os golos são marcados por tal e tal jogador.
Quem deve andar impressionado com o tempo de antena que as televisões portuguesas dedicam a estas e outras futilidades são os adeptos dos outros países. Nota-se-lhes, na expressão, que não estão habituados a ter tanta atenção mediática, a serem o centro das atenções, mesmo quando estão completamente embriagados. Quem vai ganhar? Quem marca os golos?
O jogo com a Espanha foi de alta voltagem. A equipa de todos nós sentiu-se na obrigação de lutar pela vitória, de corresponder a tanto apoio que o povo português lhe tem dedicado. Os espanhóis confiavam no empate e provavelmente foi isso que os deitou a perder. Mas a crise espanhola não é de agora. Provavelmente a explicação dos seus fracassos estará na razão directa da quantidade de estrelas que o seu futebol importa e que ano após ano vêm tapando o despontar de novos valores nacionais. Nós, pelo contrário, beneficiamos da exportação dos nossos jogadores para campeonatos mais competitivos, depois aproveitamos as mais valias.
Seja como for, os espanhóis não tiveram pedalada para a gente. No final as emoções soltaram-se, não só pela vitória, mas também e sobretudo porque foi um jogo vivo, recheado de lances espectaculares. As oportunidades criadas pelas duas equipas (nós tivemos mais, e nessa medida o resultado pode considerar-se justo) e a total entrega dos jogadores na disputa de cada bola empolgaram a assistência. Bonito de ver, embora deva ter sido muito cansativo, como posteriormente viria a reconhecer Jorge Andrade.
Hoje, quando escrevo, vai ser interessante ver!. Dois países escandinavos a poderem apurar-se, ambos em detrimento da Itália, a quem nem a vitória poderá valer caso o empate entre a Suécia e a Dinamarca seja igual ou superior a dois golos. Está-se mesmo a ver no que isso irá dar. Fica quando muito a dúvida de se saber o que aconteceria se fosse a Itália (ou mesmo Portugal ou Espanha) a poderem beneficiar de um resultado. Que valores falariam então? Os desportivos, no respeito pelas ideias de espírito desportivo de Pierre de Coubertin, ou os comerciais, no fundo aquilo que hoje parece falar mais alto em eventos como o Euro, o Mundial ou mesmo os Jogos Olímpicos? O que fica definitivamente em dúvida é o figurino da prova que permite que situações destas aconteçam. Será caso para dizer, tal como no provérbio, “a ocasião faz o ladrão”.
Por: Fernando Badana