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Estudo para apurar raça jarmelista

Técnicos e genética vão realizar registo genealógico para certificação da vaca e cabra do Jarmelo

O próximo domingo vai, ao que tudo indica, assinalar o início de um novo ciclo para os defensores e criadores da vaca jarmelista. Após algumas décadas de luta pelo estudo e certificação desta raça autóctone, os seus apelos foram finalmente ouvidos e vão culminar na XXIª Feira Concurso do Jarmelo, no concelho da Guarda, com a assinatura de um protocolo, no valor de 10 mil euros, entre a Direcção-Geral de Veterinária e a Acriguarda – Associação de Criadores de Ruminantes da Guarda. É o primeiro passo na preservação e certificação da espécie, já que vai permitir a criação de um livro de registo genealógico das jarmelistas a partir da identificação dos efectivos existentes na região ou do recurso à genética para apurar as características da raça.

Trata-se da primeira etapa no longo e moroso caminho da certificação. Para que a jarmelista seja considerada uma sub-raça da mirandesa é necessário inscrevê-la no livro genealógico da sua irmã transmontana, até lá haverá que apurar uma quantidade significativa de exemplares que justifique a sua eventual certificação. O que é, neste caso, o principal “handicap” da jarmelista, em vias de extinção. O processo tem que ser obrigatoriamente despoletado pelas associações e organizações de produtores locais junto da Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI), à qual caberá patrocinar o assunto junto do Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica (IDRHa), entidade competente em matérias da certificação. O mesmo método será aplicado às cabras jarmelistas, outra raça autóctone que tem resistido ao longo dos anos. A cerimónia é o momento alto da edição deste ano da grande festa em prol da defesa da raça jarmelista e vai ser apadrinhado pelo secretário de Estado do Desenvolvimento Rural, Bianchi de Aguiar, o director regional da DRABI, Martins de Carvalho, o director dos serviços da Direcção-Geral de Veterinária, um membro do secretariado técnico da raça mirandesa e representantes da Ancose – Associação de Criadores da Ovelha da Serra da Estrela – e da ANCRAS – Associação Nacional de Criadores da Cabra Serrana.

Paralelamente, o certame, que reúne os últimos produtores de jarmelistas, é também motivo para um festival de cultura popular e rural no Alto do Jarmelo. A organização, a cargo da Junta de Freguesia de S. Pedro do Jarmelo e a Associação Cultural e Desportiva local, com o apoio da autarquia, preparou um programa diversificado onde não faltarão a música, as demonstrações de artes e ofícios tradicionais e a tradicional garraiada. Tudo começa logo pela manhã, com a recepção dos animais, segue-se a abertura da Casa Museu e o início do concurso, cujos intervenientes vão receber troféus e prémios de participação (na última edição, a organização distribuiu qualquer coisa como 6.000 euros). A animação do recinto fica a cargo, a partir das 10 horas, de vários grupos de bombos, gaiteiros e musicais, com destaque para a charanga espanhola “La Mosca”. Prevista está também a participação dos Cavaleiros de Pinhel, dos Amigos dos Burros, de Pousade, e do Grupo de Defesa do Burro Mirandês (espécie em extinção). Durante a jornada haverá ainda tosquia ao vivo e fabrico de tesouras do Jarmelo, onde reside o único produtor do país, e muitas outras actividades tradicionais.

Luis Martins

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