As necessidades dos estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) a estudar na Guarda foram discutidas na ULS.
Mais de 15 por cento dos alunos do IPG são africanos e alguns deles vivem em situação de dificuldade económica, que se reflete no pagamento da renda da casa, da água e da eletricidade, da alimentação ou das consultas dentárias, bem como na proteção contra o frio.
Com o intuito de discutir as carências destes estudantes e de sensibilizar médicos, enfermeiros e técnicos de saúde, o Gabinete de Mediação Intercultural (GMI) do Politécnico da Guarda promoveu na terça-feira uma sessão de esclarecimento, na Unidade Local de Saúde (ULS), onde esteve presente o ministro plenipotenciário da embaixada de Cabo Verde em Portugal, Jorge Gonçalves.
Confrontado com algumas situações precárias – foram inclusive narradas na terceira pessoa algumas histórias de alunos africanos que passam dificuldades –, o diplomata disse ter ficado «muito sensibilizado» e garantiu que a embaixada «tem obrigações para com todos os cabo-verdianos que estudam» na Guarda. «Com toda a sinceridade, eu não tinha a perceção de todas essas dificuldades», admitiu Jorge Gonçalves, adiantando que a embaixada de Cabo Verde pode ter «alguma dificuldade em termos de apoios monetários», mas consegue mobilizar um número vasto de instituições, como a Misericórdia, para ajudar. «Estaremos totalmente disponíveis na medida das nossas disponibilidades», prometeu o diplomata.
Mas nem só de apoio monetário precisam estes estudantes. A alimentação é outro problema e Luísa Campos, professora do GMI, lembrou que o Politécnico da Guarda, «como instituição pública que é», não pode dar refeições, apenas os excedentes. «Supostamente eles têm que ter dinheiro para comer, mas não têm», alertou a professora, segundo a qual cinco euros para estes alunos «é muito». Neste momento são 70 os estudantes africanos inscritos na Refood da Guarda: «Estamos a chegar a um ponto de rotura. Continuamos a ter inscrições sucessivas», afirmou a professora Manuela Simões, enquanto Luísa Campos revelou que no próximo ano haverá um sistema diferente, «que é fazer com que estes estudantes passem necessariamente pelo nosso gabinete para sabermos desde início quais são as suas necessidades». Outra das carências apontada pela professora é o facto dos alunos dos PALOP não terem médico de família.
Sobre essa questão, o clínico Francisco Varela reforçou que «eles não têm, mas não é porque não podem ter». O médico da Associação Saúde em Português garantiu que esse problema deve ser tratado «entre Estados» e que «todo o cidadão estrangeiro residente num país» deve ter direito a assistência médica. Já Fátima Cabral, diretora clínica da ULS guardense, pediu uma lista «de problemas para podermos ajudar na medida do possível», tendo sublinhado que é preciso oficializar a situação. «É uma ajuda que, eventualmente, podemos dar se nos fizerem chegar, de uma maneira mais programada, essas necessidades», acrescentou a médica.
Os esforços têm sido muitos, mas nunca são suficientes. O vice-presidente do IPG, Pedro Cardão, recordou que na altura dos incêndios houve uma grande «dádiva de roupas» e chegaram a ir a Oliveira do Hospital «buscar uma carrinha cheia» para os estudantes dos PALOP que estão na Guarda. Os interessados em ajudar nesta causa podem fazê-lo através do IBAN 0018 000342946772020 45. Para contribuir em géneros, poderá fazê-lo pessoalmente no Gabinete de Mediação Intercultural, nos Serviços Centrais do IPG, através do 271 220 100 ou do email mediacaointerculturalipg@ipg.pt.
Sara Guterres