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Estórias do Mondego: Variações sobre um rio

Opinião – Ovo de Colombo

Este é um livro diferente. Capa sóbria, design elegante, fotos que privilegiam o preto e o branco e, sobretudo, texto, muito texto que nos convida a mergulhar em cenários do passado e do presente, tendo sempre como cenografia o rio Mondego.

Estórias do Mondego nasceu precisamente de um repto proposto a um grupo de recém-licenciados em Jornalismo pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra: criar histórias a partir das estórias construídas pelo Mondego, da nascente até à foz. Este desafio integrou-se no ano em que a Universidade de Coimbra, uma das parceiras do projeto, celebrava o ano da água. Foi assim que a empresa Ideias Concertadas, apoiada pela Águas do Mondego e pela FBA, sediadas em Coimbra, tomou a iniciativa de desafiar estes jovens a contar a história do rio que banha a Lusa Atenas. Com a coordenação de João Figueira, professor de Jornalismo na Universidade de Coimbra, Estórias do Mondego conta com textos de cinco autoras e fotografia de três.

Aqui encontramos estórias com rosto, vidas atribuladas feitas ao compasso da torrente, caminhos difíceis, sulcos feitos pela água do rio; para uns alegria, para outros agruras; nuns locais, bonança, noutros, tormenta. É precisamente o que este livro nos oferece: oito narrativas, magistralmente escritas, em que o protagonista é o curso de água que rasga o país de oriente a ocidente, e com ele vai moldando pessoas, profissões, locais, trabalhos, entretenimentos, pequenas estórias.

Acompanhando o curso natural do rio, desde a sua nascente na Serra da Estrela, até à Foz, aquilo a que vamos assistindo é a um desfiar de pequenas histórias, protagonizadas por homens e mulheres a quem o rio marcou de alguma forma. E essas vidas, fertilizadas por uma escrita escorreita, fluente e criativa, dão sentido ao curso do rio e às paisagens que ele vai modelando: desde as arribas da Serra às salinas da Figueira, passando pelas aldeias submersas, pelo ramal da Lousã ou pelos campos do Mondego.

Diríamos estar perante oito belíssimas reportagens, extraordinariamente bem documentadas, que nos convidam para uma viagem de imersão nas raízes etnográficas dos povos que viveram e vivem do rio: vendedores, pastores, pescadores, lavadeiras, marnotos. Reportagem acompanhada de belas fotos, que testemunham aquilo que a escrita vai lavrando, dando vida ao livro e guardando para a posteridade momentos únicos.

Enfim, Estórias do Mondego é um livro que se lê de um fôlego e que nos mostra a vida de um rio, feita de uma rede de histórias, humanizadas e desafiantes. À Carlota Rebelo, à Catarina Pinto, à Catarina Prelhaz, ao Gonçalo Ermida, à Joana Moura, ao José Pedro Fernandes, à Mariana Pardal, à Raquel Carvalho, o nosso muito obrigada!

Ana Teresa Peixinho*

*Professora da Universidade de Coimbra

Sobre o autor

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