Enfrentar um problema irresolúvel à luz dos princípios de cada estrutura é o lugar desafiante que estremece a coligação tripartida de António Costa. O mais interessante é que todos vão desejar encontrar esse ponto num espaço onde imaginam que a razão lhes assiste. Esta questão tem a ver com a subjetividade do valor eleitoral que cada um tem. Há votos de rejeição pura, como aconteceu com José Sócrates e recentemente com Passos Coelho. Esses votos podem impedir uma maioria e podem apenas expressar descontentamento nas medidas impopulares independentemente da sua lógica ou acertada razão. Os estivadores poderiam ser donos da maior das razões e o seu sindicato podia ser o dono da linha que demarca a moral e a sua ausência, mas recordo três factos: 1- fizeram mais de um ano de greve. 2- Como se vive sem receber salário ou subsídios durante um ano? Eu não conseguia! 3- Os prejuízos acumulados parecem ser de mais de 1 milhão de euros por semana de greve. Recordo que as entidades portuárias cobram pela receção de mercadoria. Recordo que os navios pagam a estadia nos portos. Recordo que a carga dos contentores é a mais diversa, desde medicação a comida, roupa, automóveis. Recordo que os donos das cargas dos contentores são pequenos, médios e enormes empresários. Todos dependem da economia dos portos e da economia de transporte de contentores. Há neste braço de ferro entre estivadores e empresas uma profunda divergência que há um ano já permitiu um comunicado escrito nos jornais que esclarecia a importância da contenda pela teimosia de um dirigente sindical. Era uma das versões. Os partidos podem ganhar poder com estas guerras? Claro que sim! O PCP domina alguns sindicatos, domina juntas de freguesia e domina assembleias de compartes. Deste modo também financia o partido e descobre meios de gerir o poder na rua. Tudo se relaciona e tudo trás domínio. Então entre dirigentes sindicais há decisões de boicote à atividade que podem ter origem em decisões partidárias? Sim, de forma segura. Esta questão dos estivadores pode estar a ser gerida para inquinar a geringonça por dentro dela? Pode e é com toda a certeza um meio de encostar António Costa à parede. Costa carece do acordo e tem de vacilar. Costa sabe que há um timing político que lhe dá vantagens sobre os outros dois e reconhece que agora ainda não é o tempo certo. A política continua ao rubro.
Por: Diogo Cabrita