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«Este é seguramente o pior mandato autárquico desde o 25 de Abril»

Entrevista – Pedro Farromba

P – Que balanço faz do executivo PS na Câmara da Covilhã?

R- Acho que foi seguramente o pior mandato autárquico desde o 25 de Abril. Foi um mandato desajustado da convicção de quem votou no PS, de que haveria alguma mudança para melhor, e o que aconteceu foi que o concelho mudou para muito pior. Neste momento a Covilhã é um concelho que está, comparativamente aos outros da região, desajustado da realidade e tem perdido muitas oportunidades. Desde logo, no início do mandato, a troca a sede da CIM para a Guarda mostrou logo ao que vinha o presidente da Câmara da Covilhã. Depois, a perca de oportunidades, como a instalação de empresas e a saída de outras do concelho. Também se perdeu uma hegemonia regional que a Covilhã tinha e vinha construindo. Houve ainda um modelo de gestão muito assente na cor do partido, com contratações avulsas atrás de contratações sem ter sequer em conta o perfil das pessoas e a necessidade de as integrar. Aliás, há pessoas que trabalham nas empresas municipais e na Câmara sem uma função definida. O balanço é realmente muito negativo e, como disse, foi seguramente o pior executivo municipal desde o 25 de Abril.

P- O qua acha da aliança PS-PSD na Câmara?

R- É uma ligação completamente anti-natura. Tanto que se criticaram e agora trabalham em conjunto, o que demostra que realmente é incompreensível esta ligação. Não se entende como o PSD aceitou esta ligação quando se percebeu ao longo do mandato o que estava a acontecer e a forma errada como os destinos do concelho estavam a ser geridos. Para o PS foi a tábua de salvação, foi o único que aceitou fazer parte deste descalabro. Se não fosse o facto de estarmos a falar de um concelho até usaria uma expressão popular, de que “só se estragou uma casa”, porque realmente a competência deste executivo enquadra-se naquilo que foi a forma como o PS digeriu as últimas autárquicas. Aí também está uma questão sintomática, nas listas apresentadas pelo MAC constavam muitos militantes do PSD, que foram expulsos. Hoje temos um vereador na Câmara que faz uma coligação com o PS, é lhe retirada a confiança política e ele continua a ser militante.

P- Acredita que sem esta aliança o executivo de Vítor Pereira já teria caído?

R- A divergência de opiniões não pode ultrapassar o voto das populações, que escolheram o PS para governar, portanto deve estar lá. No entanto, com todas as divergências internas que houve no PS, com a retirada da vice-presidência a Carlos Martins, as confusões que existiram e que existem, as divergências e clivagens que subsistem no PS, muito possivelmente, sem o apoio do PSD, esta Câmara já teria caído. E se calhar esta desgraça que assolou a Covilhã já teria dado lugar a um executivo com funções mais claras, com rumo, trabalho e projeto, coisa que não existe atualmente.

P- Acha que há condições para o regresso de Carlos Pinto?

R- O mundo dá muitas voltas e temos de olhar para a política de forma evolutiva. Há pessoas no concelho da Covilhã com tanta ou mais capacidade que aqueles que lá estiveram para poderem gerir os destinos do concelho. Acho que tem de ser dar oportunidade a outras pessoas para fazerem esse trabalho. Carlos Pinto foi um grande presidente de Câmara, o melhor desde o 25 de Abril, e deixou a sua marca no concelho.

P – É candidato em 2017? De que forma, num movimento independente ou numa lista do PSD?

R- Ainda é extemporâneo falar nisso, mas tenho 42 anos e, portanto, não fecho a porta a nada. A Covilhã precisa de um projeto autárquico credível, disso não há dúvidas. Diria que até aos próprios militantes do PS também já não duvidam disso. Se esse projeto passa por uma candidatura minha ou não, não sei ainda, pois neste momento não tenho qualquer decisão tomada. O que me entristece muito é o que está a acontecer à Covilhã. Nos outros concelhos vemos empresas criadas, projetos a desenvolver e novas infraestruturas, mas por cá só há notícias sobre perdões de dívida feitos de forma estranha, sobre favorecimentos e o incumprimento de algumas coisas, e isto descredibiliza o próprio município, as pessoas. No fundo, é um sinal de desconfiança para empresários que queiram vir investir aqui. E isso deixa-me triste porque no passado chegaram à Covilhã muitas empresas, criou-se muito emprego e desde o início deste mandato viu-se zero. Depois há um trabalho do ponto de vista social que esta Câmara também não tem sabido fazer e um descontentamento muito grande nas Juntas, no movimento associativo e realmente urge que apareça um projeto autárquico credível.

P- Quais os projetos que deveriam ser prioridade da Câmara?

R- O problema do interior é a falta de pessoas, que só é ultrapassado se conseguirmos criar condições para que mais gente venha para cá e que quem cá está não saia. Só conseguimos fazer isso se houver um trabalho do município, de dar condições às empresas aqui sedeadas para que possam continuar a criar emprego e mantenham os postos de trabalho já criados. É ainda necessário que se procurem novos investimentos, pois só com emprego é que as pessoas e os jovens que saem da universidade cá ficam. Esta deveria ser a primeira preocupação do próximo executivo. A saúde, cada vez mais na ordem do dia devido às clivagens entre a Administração Regional do Centro e os hospitais locais, será outra. É preciso um peso político nesta clivagem e que haja forma de afirmar quais são as dificuldades da Covilhã. Depois, a educação, havendo emprego tem de haver condições na educação e saúde e aí o papel da UBI é fundamental. Trabalhar em conjunto com a universidade é importante. O bem-estar das pessoas será outra área de intervenção, nomeadamente a relação com as Juntas, o associativismo e o apoio social. A habitação social está degradada, por mais intenções que se possam falar, ações concretas zero.

P- Qual o futuro do Movimento Acreditar Covilhã?

R- Os movimentos independentes são pessoas que se juntaram numa determinada circunstância e que entenderam ser oportuno e útil para o concelho a apresentação de uma lista. Tivemos um papel importantíssimo nas últimas autárquicas ao ganharmos a maioria das Juntas, mas o resultado ficou aquém das expetativas porque o nosso objetivo era ganhar a Câmara. Neste momento está tudo em aberto e já há candidatos às Juntas que manifestaram intenção de se recandidatarem pelo MAC. Como movimento de pessoas, estou certo que o MAC vai continuar, seja de forma extemporânea ou integrado noutra estrutura, porque o que nos levou a concorrer está cada vez mais na ordem do dia: a situação da Covilhã piorou. Resta perceber nos próximos meses como vamos encontrar a tal solução credível para conquistar o município.

P- Como vê a Covilhã atualmente?

R- Vejo-a como uma cidade triste. Toda a dinâmica que existia desapareceu. Toda a vontade política de desenvolver o concelho também e hoje vejo uma cidade cujos dirigentes passam a vida a falar do passado e não têm a mínima noção do que querem fazer. Não têm ideias, não têm projetos, não sabem para onde querem levar o concelho, o que me deixa preocupado. E isso nota-se no dia-a-dia, basta andar na rua para perceber o que as pessoas, os presidentes de Junta, estão a sentir.

Perfil:

Vereador da Câmara da Covilhã eleito pelo MAC

Idade: 42 anos

Naturalidade: Covilhã

Profissão: Gestor de empresas

Currículo: Trabalhou na SONAE e na Jerónimo Martins. Regressou à região para assumir o cargo de diretor executivo do Parkurbis. Foi vice-presidente da Câmara da Covilhã entre 2012 e 2013. Atualmente é gestor de empresas no setor privado.

Livro preferido: “Os retornados, Um amor nunca se esquece”

Filme preferido: “O Clube dos Poetas Mortos”

Hobbies: Família, amigos, desporto e a Federação de Desportos de Inverno

Pedro Farromba

Sobre o autor

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