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Este 1º de Maio foi esclarecedor

Crónica Política

A austeridade, o desemprego e um conjunto de atropelos que hoje se vivem resultam do programa de agressão imposto pela(s) “troika(s)”, aliás tem sido um fator permanente nas últimas quatro décadas, não só em Portugal, mas nos países capitalistas mais desenvolvidos.

Os “programas de austeridade”, independentemente da forma em que se apresentam, têm como principal propósito a redução dos custos unitários do trabalho, daí as alterações cirúrgicas ao Código de Trabalho, com o voto favorável do PSD/CDS e a abstenção do PS. A ofensiva contra os direitos dos trabalhadores – conduzida por sucessivos governos desde o primeiro do PS/Mário Soares até ao atual do PSD/CDS – constitui a principal marca de classe da política de direita. Esta ofensiva foi impulsionada na data histórica do 1º Maio – Dia Internacional do Trabalhador. Há muito que as grandes cadeias de hipermercados pretendem pagar os feriados nacionais e os domingos como se fossem dias normais de trabalho e foi para isso que muitas decidiram abrir no 1º de Maio. Mas a operação do Grupo Jerónimo Martins nas lojas Pingo Doce abriu uma nova e perigosa frente na guerra pelo controlo do mercado. Há uma lição a tirar de outros exemplos, da eletricidade, do gás ou dos combustíveis: «Quando um domina, os preços aumentam».

As entidades patronais usam todos os meios para garantir que os seus trabalhadores compareçam ao trabalho apesar de estarem abrangidos por um pré-aviso de greve. Quando digo todos os meios, refiro-me a situações da mais básica coação psicológica até à ameaça de despedimento ou de represálias diversas. Este tipo de pressão é normalmente exercida por trabalhadores que se encontram numa posição hierárquica superior contra os seus colegas de trabalho. Nunca ninguém verá o “homem da cadeira” telefonar a uma operadora de caixa ou a um repositor. Para os que ingenuamente acreditam que esta coisa da luta de classes e das ideologias é coisa extinta, este 1º de Maio foi esclarecedor. A importância que o capital dá às datas simbólicas para a luta dos trabalhadores é de tal ordem que não hesitaram na afronta mais desprezível.

Não é fácil suportar a ideia de que os explorados não tenham consciência de que o são e que se deixem vender por um desconto, sem perceber que, ao fazê-lo, estão de facto a descontar num capital que deveria ser inalienável… a dignidade humana.

No entanto, insistir em bater na albarda para castigar o burro não me parece uma opção muito racional. Então não sabemos todos que o sistema garante, através de uma comunicação social engajada, os diversos tipos de ópio com que se alienam os explorados? Não é o que acontece quando uma massa imensa de gente que nada tem a ver com benefícios, privilégios ou propriedade, vota alternadamente no PS ou no PSD para em seu nome exercerem o poder em prol dos que os ofendem e humilham?

Entendo a indignação inicial e até a vontade impulsiva de dizer “esta gente tem o que merece”, mas já não entendo que após esse momento não tenhamos a capacidade de perceber que será exatamente com essa gente que terá que ser construída outra sociedade onde a liberdade de comerciar não se sobreponha à liberdade de comemorar o 1º de Maio.

Este 1º de Maio demonstrou claramente duas coisas: a primeira é que o medo de quem explora é tão grande que não hesita em utilizar artilharia pesada contra uma data simbólica que pretende desvalorizar; a segunda é que, quando mais se agudiza a luta, mais é necessária a resistência dos trabalhadores. Da luta de classes. A Humanidade precisa de um novo rumo para derrotar a ditadura do lucro e libertar-se do jugo da exploração. É fundamental continuar a defender as conquistas de abril para a construir o futuro, não é no abstrato que as defendemos, cada vez mais é necessário afirmar e apoiar as posições políticas que optam pelo investimento nas funções sociais do Estado. Este governo não é bom exemplo, claudica com oito milhões para investimento nas obras do Hospital Sousa Martins, mas não pestaneja em injetar milhões e milhões no BPN.

Por: Honorato Robalo

* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP

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