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«Estamos a perder pontos de referência na região»

Exposição/instalação de Luís Afonso pretende alertar para a decadência do Sanatório das Penhas da Saúde

“Sanatório-Espaço sem fim” é o nome da exposição/instalação do covilhanense Luís Afonso, integrada no Festival Y que a Casa dos Ministros (junto à igreja de Santa Maria) acolhe até 12 de Novembro.

Constituída por um conjunto de fotografias do interior do edifício, construído no início da década de 30, o espaço acolhe ainda uma composição tridimensional instalada no centro da sala. A peça, de dimensões razoáveis, foi realizada propositadamente para o efeito por Luís Afonso e trata-se de uma estrutura em ferro recortado, assente numa base de brita, em forma circular, que pretende simbolizar a parte arquitectónica exterior do grandioso edifício desenhado por Cottinelli Telmo que, recorde-se chegou a ser considerado um dos maiores edifícios da Península Ibérica. Para completar o conceito, foi também pensada a colocação de elementos de sonoplastia recolhidos no Sanatório pelo próprio artista, a projecção multimédia de imagens nas enormes janelas da Casa dos Ministros, «que são visíveis do exterior e convidam os transeuntes a entrar», e ainda pormenores de iluminação que pretendem realçar a composição tridimensional central.

A ligação entre as fotografias e essa proposta é, de resto, conseguida através de um conjunto de três pedras em granito negro no centro do círculo de ferro e onde se pode ler um jogo de palavras que é uma espécie de provocação à decadência do Sanatório. “Apenas Ser Vazio Profundo” é a mensagem. Trata-se de uma espécie de mote para todo o conceito da exposição/instalação. Luís Afonso quer fazer valer «o desprezo e a indiferença a que o local foi injustamente condenado», sublinha. A ideia de fazer um trabalho nestes moldes já tem perto de quatro anos e é fruto de um «certo fascínio» do autor pelo imponente edifício. Durante anos, Luís Afonso dedicou-se à recolha de diversos elementos relacionados: «Até há poucos anos ainda ali existiam documentos antigos, fichas de doentes e radiografias», recorda. O artista foi criando um espólio considerável, onde se contam também inúmeros trabalhos fotográficos. A Quarta Parede interessou-se pelo trabalho e daí surgiu um convite «quase inevitável» para uma participação no festival Y, que termina em finais de Novembro. E Luís Afonso não deixou passar a oportunidade de fazer uma provocação «a quem detém o poder político e económico» para o caos em que se encontra o edifício. «É um espaço fantástico que poderia constituir uma mais-valia para o turismo e para a cultura da zona», considera, admitindo que a região está «a perder pontos de referência».

Rosa Ramos

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