A estação ferroviária da Fatela-Penamacor, no concelho do Fundão, vai ser o palco para o festival Paralelo 40ºN, um festival multidisciplinar que começa amanhã e termina no domingo com a apresentação de várias performances artísticas, exposições e música resultantes de um workshop que se iniciou a 16 de Agosto com a Acto- Instituto de Arte Dramática.
Durante três semanas, a estação ferroviária da Fatela – desactivada há dois anos – transformou-se numa residência artística para albergar duas dezenas de artistas nacionais e internacionais das mais variadas expressões artísticas. A ideia é conceber um espectáculo multidisciplinar para aquele apeadeiro, ao mesmo tempo que funciona como o “embrião” de um projecto de descentralização cultural que a Câmara do Fundão pretende levar a cabo nos próximos tempos. Ao todo, serão seis as estações ferroviárias desactivadas que a autarquia local pretende recuperar e que deverão ficar afectas ao futuro Centro de Artes e Ofícios da Casa da Moagem, cujo edifício está agora a ser requalificado. Com a requalificação daquelas gares, a Câmara do Fundão estende a sua política cultural às freguesias rurais transformando-as em centros de fluidez cultural, patrimonial e social. A ideia, que resulta de um protocolo com a REFER – Rede Ferroviária Nacional, tem como objectivo recuperar aquele património ferroviário votado ao abandono com o decréscimo do recurso ao comboio para transformá-los em «espaços para desenvolver actividades artísticas, salas de exposições com uma certa cultura de viagem, novas formas de alojamento para um turismo juvenil ou para gabinetes ligados ao lazer e património ferroviário», adianta o vereador com o pelouro da cultura, Paulo Fernandes. «O importante é que este património fique no município e que não seja alienado para fins que não contribuem para a estratégia de desenvolvimento das freguesias e do município», justifica.
Entretanto, é possível ter já uma “visão” do futuro daquelas estações ferroviárias com o espectáculo multidisciplinar que terá início ao final da tarde de amanhã. Sob a temática da «viagem» e da «ligação ao mundo» por um paralelo que traça uma linha imaginária ou real e que atravessa cidades como Filadélfia (América do Norte), Pequim e Bautou (China), Corfu (Grécia), Akipa (Japão) e Ancara (Turquia) ou a mítica Samarcanda. Daí a designação de Paralelo 40º N. A estação de caminhos-de-ferro daquela aldeia do Fundão é uma «ligação ao mundo por uma linha imaginária», explica Filipe Pereira, director artístico da Acto, tendo em conta que a estação da Fatela é uma zona de intersecção entre vários universos e outras áreas, geográficas ou ficcionais. É uma linha que «nos liga ao mundo», realça.
Todos os artistas convidados vieram para a residência artística da Fatela «de mãos vazias», assegura, pelo que todos os espectáculos a serem desenvolvidos foram pensados e criados no próprio local em interacção com os artistas, com a paisagem geográfica, afectiva, social e humana. Para além das várias criações performativas, aquele espaço vai acolher ainda exposições e instalações de vídeo-arte, intervenções plásticas e fotográficas, animações musicais e literatura, concertos de rock, jazz e cafés-concertos.