À provocadora questão de uma aluna atrevida que lhe perguntou «se lhe arranjava trabalho», o diretor de informação da TVI desafiou a estudante a criar o seu emprego, apostando na inovação e diferenciação. José Alberto Carvalho foi um dos oradores convidados do Congresso Internacional sobre “Jornalismo e Dispositivos Móveis”, que decorreu na semana passada na Universidade da Beira Interior.
No final da sessão sobre jornalismo, que contou também com a participação de Henrique Monteiro (Impresa – Expresso) e Pedro Tadeu (Controlinveste – DN/JN/TSF), o jornalista explicou à aluna que acredita que «está, praticamente, tudo por fazer no jornalismo», atendendo aos constantes avanços na tecnologia que provocam também alterações no modo como a informação chega às pessoas. José Alberto Carvalho avisou os estudantes que «vão ter de criar» o seu trabalho em vez de o procurar porque a conjuntura é bastante adversa. «Não vale a pena olhar para o jornalismo com os conceitos do passado, que já estão ultrapassados», declarou. Já Henrique Monteiro lembrou que no primeiro jornal em que trabalhou lhe perguntaram se «comia e dormia em qualquer lado e se sabia escrever em qualquer tipo de teclado», mas isso acabou e agora pergunta-se «se sabe gravar e editar um vídeo?».
O antigo diretor do semanário “Expresso” esclareceu também a aluna que, caso consiga inovar, poderá vir a efetuar trabalhos para várias publicações e não trabalhar propriamente só para uma empresa. Por sua vez, Pedro Tadeu salientou que o conteúdo dos sites de informação portugueses é «muito semelhante» e que «há demasiada gente a produzir a mesma informação», sublinhando que, «além dos avanços tecnológicos, os custos de produção e de manutenção de sites também reduziram drasticamente». Para o jornalista, «há assuntos e temas que podem ser rentáveis na internet e que não têm espaço nos jornais impressos», pelo que sustentou haver «nichos de mercado que podem ser interessantes de explorar». Antes, durante a sua intervenção, José Alberto Carvalho defendeu que «vivemos numa era em que consumimos mais vídeo do que televisão», sendo que uma das «vantagens da imprensa escrita sobre as televisões é que a pesquisa nos motores de busca surge em texto e não em vídeos».
Para o diretor de informação da TVI, atualmente, os jornalistas são «manipulados pelas fontes», dando o exemplo do uso que figuras públicas dão a redes sociais como o facebook ou o twitter, numa realidade que «não existia há uma década» e que, na sua opinião, «tornou a tarefa dos jornalistas mais necessária do que nunca», até porque «não é por termos muita informação ao dispor que vivemos mais bem informados». O também pivot do “Jornal da Noite” frisou que o «modelo de negócio das empresas de media mudou», tendo realçado que a «periodicidade foi um dos conceitos que mudou» e que o cidadão comum «não vive obcecado com a informação, precisa é das notícias hierarquizadas». O jornalista sublinhou ainda que «cada meio e cada dispositivo exigem conteúdos diferentes», sendo que os utilizadores querem «coisas diferentes» na televisão, iPhone, tablet ou computador.
Ricardo Cordeiro