Arquivo

«Esta condecoração é um sinal que somos reconhecidos na opinião pública»

Cara a Cara – Manuel Geada Pinto

P – Sabe porque a Escola Regional Dr. Dinis da Fonseca foi condecorada pelo Presidente da República no passado 10 de junho?

R – Penso que esta distinção tem a ver com uma visita que o Presidente da República fez há poucos anos ao Outeiro de São Miguel. Ele foi aqui muito bem recebido e contactou com os nossos alunos, que festejaram muito a sua vinda. Até ficou impressionado, pois disse-me que nunca tinha visto «tanta criança». Nessa altura eu tive a ocasião de lhe falar desta obra, já que o Outeiro é uma valência de uma obra que se chama Instituto de São Miguel, que embora tivesse nascido aqui pela vontade do Dr. Alberto Dinis da Fonseca, depois estendeu-se a outras localidades e hoje está espalhada não apenas na diocese da Guarda, mas também em Coimbra e Lisboa. O Instituto ficou talvez mais conhecido e as pessoas até pensam Instituto de São Miguel – Outeiro de São Miguel, mas realmente o presidente ficou impressionado nessa visita. Mostrei-lhe as várias atividades que o Instituto de São Miguel desenvolvia aqui, no Rochoso, na Cerdeira, na Guarda e noutros lugares, por isso, uma vez que vinha à Guarda por ocasião do 10 de Junho, manifestou o desejo de mostrar algum reconhecimento pela forma como aqui foi recebido. Eu apenas fiz questão de lhe dizer que a condecoração deveria ser atribuída à obra, até porque, sinceramente, é reconhecida pela opinião pública.

P – O que acha desse reconhecimento? Já teve algum impacto por parte dos pais ou nas matrículas?

R – Por vezes, diz-se que são atos de justiça, mas neste caso é um reconhecimento, um sinal de que, na opinião pública, estamos no mapa. As pessoas ainda vão dando conta que existimos – também não é isso que nos interessa –, mas de qualquer forma reconhecemos que a opinião pública dá conta de que há uma instituição que tem várias atividades, valências e que serve a comunidade. Não penso que a condecoração tenha sido uma propaganda à escola, mas alguns pais manifestaram muita alegria pela distinção através de telefonemas, de mensagens e até no espetáculo do final do ano letivo para as famílias dos alunos. Claro que não foi só a escola a instituição distinguida, foi toda a atividade que se desenvolve no Outeiro de São Miguel, da preparação de alguns alunos no campo das atividades ao campo do jornalismo, passando pela tipografia e outras artes e ofícios, mas também pelo campo artístico, pois o clube da música tem desenvolvido várias iniciativas que são sempre do agrado dos pais.

P – Qual é a situação atual da escola, em termos de alunos, funcionamento e projetos?

R – A escola não tem falta de alunos, até este ano pensava eu porque o problema das escolas hoje é um problema de natalidade. Não há crianças e quando começaram as matrículas para o novo ano letivo eu pensava que iriam diminuir no 1º ano do ensino primário ou no 1º ano do ciclo preparatório. Mas não. Também vamos ter uma mais uma turma no 5º ano graças a alunos que vêm de fora do Outeiro, sinal de que ainda há pais que pensam que, talvez por estarem aqui um pouco mais acompanhados, mais protegidos, os filhos podem aproveitar melhor o ensino e a preparação que se faz nesta casa.

P – Quais são as principais carências da escola?

R – As carências são de várias ordens como tudo aquilo que é humano tem carências. Não nos podemos queixar da falta de colaboradores, felizmente temos bons professores e também temos bons acompanhantes. Temos por norma nesta escola que cada turma tem um vigilante que a acompanha sempre e portanto tem um contacto privilegiado com as famílias e isso é normalmente reconhecido. As carências são mais de ordem económica porque atualmente temos um pequeno contrato com o Ministério da Educação que possibilita o ensino gratuito do 5º ao 9º ano. Já não temos essa ajuda ao nível do ensino primário e, por vezes, é um pouco difícil gerir o dinheiro para cobrir as necessidades, mas vai-se vivendo e também as pessoas reconhecem que vale a pena investir alguma importância na educação dos filhos.

P – Quantos alunos tem neste momento a escola? É um número que tem aumentado ou diminuído?

R – Ao certo não sei neste momento, mas passará um pouco dos 500 alunos, isto sem contar o pré-escolar, que deve ter à volta de 30 alunos. Este número tem estabilizado bastante porque não podemos recusar alunos, quando muito temos que notificar a tutela que dá o seu parecer sobre o número de turmas que será necessário fazer para aquela quantidade de alunos. Em regra, aceitamos os que vêm embora compreendamos os problemas da escola, que são realmente de frequência. Não há crianças e muitas vezes há uma disputa entre escolas, procuram-se segurar alunos aqui e além, o que compreendo, mas não temos grande falta de alunos nem de procura. Veremos o que vai acontecer neste ano letivo.

P – Quais são os próximos projetos/desafios da escola?

R – Temos um projeto do ensino secundário com várias valências e estamos este ano até com algum benefício do que se fez em novos laboratórios para conseguir ter alunos em todas as valências normais do secundário, sobretudo na parte técnica. Por isso, este ano os laboratórios foram mais apetrechados. Vamos ver como vai correr, porque, muitas vezes, os pais dizem-nos no fim do 9º ano que gostavam que os seus filhos aqui continuassem, mas é preciso um certo numero de alunos que garantam a frequência porque, ao nível do secundário, não seria possível manter o ensino gratuito e então isto teria alguns custos para as famílias que os matriculam.

P – A Escola continua a ser apoiada pelo Estado? Os valores têm vindo a aumentar ou a diminuir? Qual é situação ideal nesta matéria?

R – Sim, temos um contrato de associação a partir do 5º ano e um contrato simples ao nível do ensino primário. Os contratos têm vindo constantemente a ser renovados, mas as importâncias que o Ministério transfere é que têm vindo sempre a diminuir e à promessa de que no próximo ano diminuam ainda mais. A situação ideal seria que o ensino pudesse ser totalmente gratuito e, portanto, que o Ministério da Educação assumisse o pagamento dos compromissos com os professores e com a manutenção da escola. Os pais têm o direito de escolher o tipo de ensino que querem para os seus filhos, mas é evidente que isto tem as suas – e as nossas – dificuldades no país que somos agora, por enquanto. São dificuldades de gestão dos dinheiros públicos e percebo que não seja muito fácil do ponto de vista financeiro as coisas melhorem.

P – Como vê o atual estado do ensino a nível regional?

R – A nível regional, estamos bem servidos de escolas, não falo do que se foi fazendo, sobretudo a nível do primeiro ciclo, que é discutível. Os mega agrupamentos são discutíveis do ponto de vista social e até do ponto de vista do aproveitamento das próprias crianças, mas enfim é o que temos e realmente o que se projeta é que as escolas funcionem e funcionem bem. Temos que reconhecer que as novas escolas que se fizeram estão bem apetrechadas, são boas construções, têm em vista as necessidades especificas dos alunos, mas têm os inconvenientes da deslocação dos alunos do seio das famílias, às vezes para longe, mas não nos podemos queixar muito, pois temos boas escolas no nosso distrito.

Sobre o autor

Leave a Reply