P – Qual o motivo principal desta sua vinda à Guarda?
R – Vieram dois irmãos de Taizé a Portugal para contactar os jovens das diferentes dioceses do país, porque no final do ano vamos celebrar, em Lisboa, o encontro europeu de jovens que a comunidade organiza actualmente de 28 de Dezembro a 1 de Janeiro. É a primeira vez que é organizado em Portugal e queríamos, como preparação, convidar os jovens de diferentes dioceses para ir a Taizé durante uma semana de Verão para se preparar já o acolhimento. Esperamos receber em Lisboa 60 mil jovens de toda a Europa e de outros continentes, que vão partilhar a vida das paróquias e comunidades cristãs de Lisboa e dos arredores. O acolhimento está a cargo do Patriarcado de Lisboa, mas também das dioceses de Setúbal e Santarém, num total de cerca de 80 paróquias.
P – Em termos gerais, o que é Taizé?
R – Taizé é o nome de uma aldeia francesa, situada 100 quilómetros a Norte de Lyon, onde o fundador da nossa comunidade, o irmão Roger, chegou há 64 anos com a intenção de reunir homens para viver uma vida comunitária, em celibato e na comunhão de bens. É como uma parábola de comunhão. O nosso objectivo é dar a nossa vida pela reconciliação dos cristãos e actualmente somos 100 irmãos católicos e de diferentes origens: evangélicos, luteranos, anglicanos… E juntos queremos dizer que é possível a reconciliação entre os cristãos. Depois de muitos anos de comunidade em Taizé chegaram muitos jovens que queriam partilhar parte da nossa vida – a nossa oração comum, três vezes por dia, e também a nossa busca de um sentido para a vida em Cristo ressuscitado – e assim desde há 20 anos que nos encontramos numa cidade europeia no fim do ano. Em 2000, por exemplo, estiveram em Barcelona cerca de 80 mil jovens de toda a Europa, para conviver com a mensagem de Cristo e discutir em “workshops” temáticos assuntos de interesse comum. Entre os convidados para animar esses debates esteve a antiga primeira-ministra Maria de Lourdes Pintasilgo
P – Como é que vos ocorreu organizarem o encontro este ano em Portugal?
R – Há vários anos que temos sido convidados a preparar o encontro em Portugal por muitos jovens que têm exprimido o desejo de que Lisboa acolha o evento. Agora, com o pavilhão Atlântico e a Expo 98 é possível realizar um encontro europeu de jovens.
P – Num tempo de descrença em muitos valores, um tempo de conflito e guerra, para si, que participa num projecto ecuménico de paz e comunhão, como vê este período?
R – Desde o início da comunidade que era muito importante viver a nossa vocação no meio do sofrimento humano e ainda hoje a função dos irmãos que vivem no Bangladesh ou no Senegal, onde há uma maioria muçulmana, é muito importante para que sejam vistos como elementos de confiança, reconciliação e paz na família humana. É por isso que Taizé tem sempre querido fazer-se sentir presente no meio do sofrimento. Durante a guerra na Bósnia, em 1992, três irmãos ficaram entre os refugiados na Croácia e a comunidade acolheu durante três Verões crianças que estavam em campos de refugiados. Em 1994, a comunidade também acolheu uma família do Ruanda e outra da Bósnia. Estes são exemplos da nossa preocupação com o sofrimento do ser humano. Infelizmente, os momentos de sofrimento continuam em muitas partes do mundo.
P – Numa altura em que se fala muito da “Paixão de Cristo”, o filme de Mel Gibson, qual é o seu comentário sobre a polémica?
R – Ainda não vi, portanto não posso dizer nada.
P – Há uns anos havia muitos jovens, da Guarda, que se deslocavam a Taizé para participar nos encontros e na vida comunitária. Alguma mensagem para esses jovens e também para os que vão actualmente?
R – Esperamos poder acolher este Verão o maior número possível de jovens desta como de outras dioceses, porque a experiência em Taizé pode ser importante para verem o sentido da sua busca em Cristo. Taizé está aberta a todos.