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Esgalhado e Pinto assumem “divórcio”

Presidente da Câmara da Covilhã retira competências ao vereador que já garantiu que não se demite

João Esgalhado vaticina que os próximos meses vão ser «difíceis e curiosos» na Câmara da Covilhã até às autárquicas. O vereador votou contra a extinção da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) na reunião do executivo da passada sexta-feira e no dia seguinte Carlos Pinto retirou-lhe os pelouros e as competências a tempo inteiro. Na segunda-feira, em conferência de imprensa, o eleito garantiu que não se demite, tecendo duras críticas à gestão do presidente, que já respondeu a preceito.

João Esgalhado perspetiva que o próximo ano vai ser «difícil» porque «há cinco pessoas na Câmara [Pedro Silva entregou os pelouros] que não têm qualquer dependência hierárquica relativamente à atual maioria e, portanto, a maioria está em minoria». O vereador constata que, a partir de agora, «qualquer proposta do presidente ou de algum dos restantes membros da maioria pode ser chumbada, como pode ser aprovada qualquer proposta de algum dos vereadores que não estejam nessa maioria». Assim, abriu-se «todo um leque de possibilidades» que obrigarão a uma gestão «mais democratizada, mais explicativa e menos determinativa», declarou, assegurando, no entanto, que esta posição não significa que vá «fazer oposição ativa ao trabalho do atual executivo a partir de agora». Esgalhado garantiu que a decisão de votar contra a extinção da SRU foi «estritamente pessoal» e que «não há quaisquer interesses ou estratégias pessoais, institucionais ou eleitorais sub-reptícias».

No entanto, não fecha a porta «à eventualidade de ser candidato» e revela que teve «várias sondagens de algumas pessoas, representando diversas forças políticas do concelho» para o fazer: «Não aceitei nenhuma e algumas rejeitei», afirmou o vereador, que não quis concretizar a que forças políticas se referia, dizendo apenas ter «abertura total» por não ter «nenhuma vinculação política». João Esgalhado afirmou que «hoje não existe uma equipa autárquica coesa» e que na maioria se vive um clima «de intriga, onde a ambição e interesses pessoais imperam sobre a defesa intransigente do interesse público». E criticou também a «ausência quase permanente» do presidente na cidade, alegando que, em 365 dias, Carlos Pinto «raramente está no município». O vereador acusou ainda o edil de praticar uma liderança «prepotente e despótica» e que não está disponível «para assumir o sacrifício de manter por mais tempo esta “fachada” de casamento de conveniência com a atual sombra do que já foi uma brilhante equipa autárquica». Apesar de todas as críticas, Esgalhado garante que não se demite por causa da «defesa intransigente da integridade, honestidade e isenção, no exercício de quaisquer cargos políticos, envolvendo o interesse do concelho e dos seus cidadãos».

Vereador «não terá espaço para boicotar o trabalho da Câmara»

Carlos Pinto reagiu em comunicado às declarações de João Esgalhado e apresentou «públicas desculpas aos covilhanenses por ter proposto este indivíduo para vereador». O autarca disse ainda que «sabe agora tratar-se de alguém que revela visível falta de qualidade pública, imaturidade política e inconsciência da responsabilidade da função». Na sua opinião, as declarações do vereador são «reveladoras de quem, há muito, se limitava a andar pela Câmara, como mero funcionário, não se apercebendo da realidade atual e do muito que mudou no municipalismo em Portugal». Carlos Pinto

fala também na «desilusão» que o vereador terá sentido «por não lhe ter reconhecido categoria para ser vice-presidente permanente e, ainda, lhe ter recusado apoio ou tolerar pelo silêncio, como desejava, uma sua candidatura às próximas autárquicas, dada a sua notória impreparação política e falta de estatura para o cargo».

Mais, o presidente da autarquia assume «por inteiro» a culpa de «só agora ter posto um ponto final» à relação com Esgalhado, tendo emendado «o erro», retirando ao vereador as «reduzidas missões de que dispunha». «Ameaça agora continuar na Câmara, numa atitude politicamente abusiva, atribuindo-se legitimidade política pessoal sem ter em conta as circunstâncias que o levaram a vereador. Tal é revelador da mais primária vaidade, querendo manter-se no palco da vereação sem funções», acusou Carlos Pinto. O autarca garante que apesar de Esgalhado ter anunciado «pretender fazer maioria com os socialistas, por mera vingança, não terá espaço para boicotar o trabalho da Câmara, como tentou fazer na última reunião do executivo».

Pedro Silva renunciou a pelouros

A partir de sábado, também Pedro Silva, que votou igualmente contra a extinção da SRU, vai deixar de ter funções executivas no município devido a motivos «pessoais, políticos e profissionais». O anúncio foi feito na página pessoal do facebook do vereador, onde anunciou que irá cumprir até ao fim o seu mandato, sem pelouros e sem auferir qualquer remuneração. O autarca sublinhou que vai manter-se, «como até aqui, atento a todas as questões direta e indiretamente ligadas à vida municipal com o único intuito de honrar o compromisso eleitoral com os cidadãos do concelho e com as soluções que considere as melhores para o futuro da Covilhã». Pedro Silva realçou que este será o seu «contributo enquanto vereador, a que somarão os contributos que, nos planos pessoal e profissional», diariamente continuará a dar para que a Covilhã seja «uma cidade de e com futuro».

Ricardo Cordeiro Há algum tempo que os sorrisos entre os dois autarcas deixaram de existir

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