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Escola pública versus escola privada

Entrementes

Ciclicamente, ano após ano, lá somos bombardeados com o famigerado ranking das escolas.

Ciclicamente, ano após ano, os resultados são, com algumas trocas, poucas, os mesmos. Ora isto é como um cristão ir ver um jogo da sua equipa e saber o resultado de antemão… E assim a coisa não tem graça.

Este ano, para não fugir à regra, lá vêm nos primeiros lugares da classificação os colégios privados. O mesmo que já tinha acontecido no ano transato e em todos os outros em que a bendita lista foi elaborada.

Perante a mesma realidade evidenciada em anos consecutivos, o comum dos cidadãos pode, com toda a justeza, perguntar-se o porquê da coisa ser assim tão, digamos, repetitiva. É que os media dão conta da lista, fazem umas peças jornalísticas em torno da mesma, geralmente pela rama e pronto, está o caso aviado. Pode até o mesmo cidadão questionar a escola pública e pô-la em causa já que não aparece no pódio desta “competição”.

Do ministério competente também as explicações não são muitas de guisa que a desinformação é mais do que muita.

No entanto, pelo menos um canal televisivo privado fez desta vez um trabalho mais profundo e fez contas. Fez contas e concluiu que, em média, cada aluno do sistema privado de ensino custa ao Estado (a todos nós) a módica quantia de sete mil euros por ano. Os que frequentam o sistema público quedam-se pelos cinco mil. Estes números, ambos, arredondados e sem o rigor dos cêntimos que aqui não vêm ao caso.

Caberá então perguntar qual a razão, se existe, para o Ministério da Educação e Cultura continuar a financiar um sistema de ensino que lhe fica mais caro. Acresce ainda o facto de se viverem tempos de vacas magras e não andarem os cofres do Estado propriamente prenhes de euros. Sim, bem sei que os colégios privados tiveram inicialmente a sua importância já que, nalguns casos que não em todos, foram criados para complementar o sistema público quando este não cobria todo o país. Mas agora?!… Agora quando há escolas públicas em risco de encerrar por falta de alunos?… Agora quando o sistema público cobre as necessidades? Agora quando o Governo se esforça e inventa mil e uma maneiras para se ver livre de professores que, apregoa, são em excesso?…

Mas voltemos ao tema dos resultados de um e outro sistema e… apenas algumas perguntas:

Terão as escolas públicas piores professores do que as privadas?

Terão as escolas públicas os mesmos meios para desempenhar o seu papel? Como se compreende que, mero exemplo, os alunos do Alvendre, aqui às portas da cidade, cheguem em transportes ditos escolares por volta das sete e meia da manhã e apenas regressem a suas casas depois das dezoito horas?… E querem comparar esta realidade com a de colégios que têm autocarros para irem buscar e levar os seus alunos a horas decentes?…

Já agora, qual é a percentagem de alunos com necessidades educativas especiais que frequentam o sistema privado de ensino?

Qual é o número médio de alunos por turma num e noutro caso?…

Quais as condições físicas dos espaços onde funcionam? Serão de qualidade semelhante?

Terão os alunos do privado as mesmas origens sociais dos do público?

Confronte-se, por exemplo, a taxa de desemprego dos pais e talvez cheguemos a conclusões interessantes…

São apenas algumas questões que me preocupam quando se querem comparar realidades tão dissemelhantes. E mais apreensivo fico quando são aqueles que nos governam que insistem em apenas ver a árvore sem distinguirem a floresta…

Por: Norberto Gonçalves

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