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Escócia Milenar

ENSAIOS

Por Elsa Salzedas*

Bem, tal como combinei, cá estou eu a escrever sobre a viagem científica que três professoras desta escola fizeram à Escócia.

Esta viagem foi um mergulho, profundíssimo, nos acontecimentos geológicos mais antigos desta zona do Planeta. Foi realmente emocionante tocar em formações geológicas com mais de 3.000 Milhões de anos (M.a.) – os gneisses da Lewisiana, com várias tonalidades mas sempre com o seu bandado característico, expondo as intensas deformações a que foram sujeitos ao longo dos tempos; no Mundo. Rochas mais antigas do que estas, só mesmo no Canadá, também gneisses, com mais de 4.000 M.a. O percurso geológico foi enorme; percebemos que parte das rochas que constituem este país se formou perto do pólo sul, muito antes de existir no planeta qualquer forma de vida. Posteriormente, entre a Escócia e Inglaterra existia um mar antiquíssimo, Iapetus, profundo, cheio de vida, que foi encerrando, aproximando as duas massas rochosas, até as fazer chocar, soerguendo parte da sua crosta, numa elevação montanhosa, que hoje constitui ainda uma fronteira natural entre os dois países, uma fronteira cheia de fósseis, testemunhos dessa vida estranha de outrora.

Esta longa viagem do solo escocês, desde há 3.200 M.a. ficou totalmente gravada nas rochas e, hoje, podemos perceber como as diferentes latitudes e os diferentes climas foram deixando as suas marcas. Os episódios geológicos são diversificados, com correntes de lava, Eras de edificação de montanhas e Eras glaciares a ilustrar os principais acontecimentos. As minas de carvão, cuja necessidade de exploração levou, curiosamente, ao desenvolvimento da máquina a vapor, que por sua vez esteve no arranque e desenvolvimento da famosa Revolução Industrial, revelam, por exemplo, a passagem deste bloco rochoso a que hoje chamamos de Escócia, por zonas tropicais, densamente florestadas que, ao serem invadidas e totalmente inundadas pela água – transgressão -, permitiram a fossilização dos vegetais, alguns já extintos; e a presença de carvão, nas minas, surgindo em camadas alternadas com outros sedimentos. Isto permite concluir que estes episódios de regressão e transgressão do mar sobre os continentes ocorreram várias vezes, alternadamente, ao longo dos tempos, mostrando como as alterações climáticas são também milenares.

As intensas tensões a que este bloco rochoso foi sendo sujeito, ao longo do tempo, gerou zonas de fratura com a formação de grandes falhas que hoje dividem o pais e estão na origem da intensa erosão que ao criar depressões permitiu também que algumas delas se enchessem de água e de vida e até de algumas formas estranhas de vida, como o famoso monstro Ness, no também famigerado Lock Ness.

Esta ilha gigante é deveras interessante, inundada pelo verde das pastagens a sul, por onde vagueiam milhares de ovelhas, que até inspiraram um cientista escocês, ruivo e sardento, a criar o primeiro clone somático, batizado de Dolly, por ter tido origem numa célula da glândula mamária de outra ovelha, facto que partilha com a também desenvolvida glândula mamária da cantora Dolly Parton. A norte, os gigantes vales glaciares, atapetados por vastas turfeiras, com data da última glaciação, constituem o último episódio geológico deste país, que terminou há 10.000 anos.

Muito mais haveria a contar, pois os dias foram intensos e cheios de peripécias, neste pais chuvoso, frio e ventoso, onde os livros são acessíveis por não ser cobrado IVA, onde os museus nacionais são excelentes e grátis, onde a sua população se diverte, Sextas e Sábados, como se fosse o último dia das suas vidas, numa alusão constante ao deus Baco.

Quero lá voltar, mas da próxima vez no verão, para ver as cores que ainda estavam guardadas pela natureza e sentir os perfumes dos belos jardins.

*professora

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