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Era uma vez uma floresta encantada

Era uma vez uma floresta encantada. Tinha sido plantada num bonito reino junto ao mar. Os habitantes do reino cuidavam fervorosamente da sua floresta. Durante muitos, muitos anos, dela retiraram alimento, aquecimento, cortiça, madeira para mobílias, para pipas de deliciosos néctares, madeira para construir os navios que lhes permitiram unir os vários povos do mundo… E este povo era feliz.

Com o decorrer dos anos, os habitantes do reino foram-se esquecendo de cuidar da floresta. A situação foi piorando ano após ano e no reinado de D. Durão, toda a floresta ardeu. Na Corte pouca importância foi dada ao facto. D. Durão não quis accionar o Plano Nacional de Emergência. Os seus ministros e conselheiros, porque ficava mal, lá iam dizendo qualquer coisa sem muito sentido, é certo… mas enfim! O desajeitado do D. Theias culpou os antigos soldados que, segundo este, tinham o hábito de roubar lança-chamas no exército para depois utilizarem como isqueiros. Por sua vez, D. Guilherme Silva apressou-se a acalmar os ânimos afirmando que a situação não era grave e afinal foram poucas as vidas que se perderam com o incêndio da floresta. D. Figueiredo Lopes, esse, como sempre, continuava muito discreto.

Chamaram os militares para combater as chamas. Destacou-se nessa luta o comandante do quartel de Abrantes. O homem berrava para um telemóvel e comandava um grupo de jovens que corriam de ramos em punho para o fogo sem utilizarem uma única gota de água. O povo exigiu que encontrassem os responsáveis por esta tragédia. As autoridades mandaram então prender uma dúzia de bêbedos sem dinheiro para pagar a advogados mediáticos e uma velhota de 76 anos, que acusaram de lançar engenhos incendiários nas zonas inacessíveis, onde nenhum outro ser humano poderia chegar. Após a tragédia 3,3 por cento da população activa perdeu emprego, cerca de 100 milhões de euros em madeira desapareceram, o índice de valorização ecológico baixou para níveis nunca antes vistos. O dióxido de carbono fez aumentar o efeito de estufa.

Na corte, como já se havia tornado tradição, os conselheiros decidiram que no próximo ano iriam finalmente terminar os planos regionais de ordenamento florestal, criar os planos de gestão florestal e incentivar os planos municipais de intervenção na Floresta…! Mas esta história não acaba assim, o final cabe a cada um de nós escrevê-lo, pois todos directa ou indirectamente somos responsáveis por estes incêndios.

Por: Telma Madaleno, Dirigente do Núcleo da Quercus da Cova da Beira

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