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Era uma vez um livro colectivo

Cerca de cem alunos do primeiro ciclo da Guarda escrevem histórias e poemas

Era uma vez um desafio. O de pôr cerca de cem alunos do 1.º ciclo do ensino básico da Guarda a escrever um livro de prosa e poesia. Uma vez por semana, desde 27 de Outubro, os jovens autores das escolas Augusto Gil, Bonfim, Guarda-Gare, Lameirinhas e Santa Zita experimentam a sua veia criativa e acrescentam um conto numa obra colectiva que será editada em Abril, por ocasião do Dia do Livro Infantil. O projecto “Vamos escrever um livro: ao ponto acrescenta um conto!”, promovido pela biblioteca municipal, em parceria com as respectivas bibliotecas escolares, aposta na criança como autor e não como leitor. Uma tarefa que está a ser encarada com «vaidade e entusiasmo», garante Margarida Dias Cardoso, uma das professoras envolvidas.

Responsável por quatro das bibliotecas escolares participantes, a docente considera esta iniciativa uma «óptima forma de incrementar a leitura e o contacto com os livros e a escrita». Até Fevereiro, os alunos do 4.º ano, que poderão vir a contar com a ajuda dos colegas do 3.º, têm em mãos o desenvolvimento do tema escolhido no Dia das Bibliotecas Escolares e a criação de um poema em quadras soltas. Uma vez por semana, os escritores de palmo e meio rendem-se na função de continuar a história retomando o fio narrativo deixado pelo grupo anterior. Após votação nas turmas, os temas escolhidos abordam os problemas ambientais, a Natureza, os incêndios e as estações do ano, introduzidos pelo incontornável “era uma vez”. «O ambiente tem sido focado no Estudo do Meio, por isso eles estão muito preocupados com a protecção da Natureza e já conseguem avaliar, por exemplo, que os incêndios do último Verão foram terríveis», explica Margarida Dias Cardoso, que coordena as bibliotecas escolares de Augusto Gil, Bonfim, Lameirinhas (ambas em fase de instalação) e Santa Zita, baptizada com o nome do escritor e jornalista guardense Virgílio Afonso. De resto, esta ideia está patente no conto em que a turma decidiu fazer um ninho para acolher os passarinhos que encontraram no chão de uma floresta. «É uma ficção que eles conseguiram criar e que estão a construir seguindo a tese de que é necessário preservar o meio ambiente e tratar bem os animais», nota a professora.

Nesta fase, os petizes, com uma média de idades que ronda os 9 anos, estão por sua conta, pois os professores não têm qualquer intervenção no trabalho. «As ideias, os textos e as ilustrações são todas dos alunos, nós só intervimos quando têm problemas com o computador, alguma dúvida e, no final, para rever o texto», diz a docente, que também está surpreendida com a poesia «muito bem elaborada» na Santa Zita. No entanto, este género não tem cativado muitos adeptos por ser mais difícil e tem sido dominado pela participação das raparigas. Sensibilidades à parte, «há sempre alguém que quer escrever mais que os outros», acrescenta, realçando, contudo, que os grupos estão bastante coesos e empenhados. «Dividem as tarefas, do tipo, um diz outro escreve, outro ilustra, etc.», adianta Margarida Dias Cardoso. Promover e dinamizar as bibliotecas escolares da rede concelhia, a leitura, o livro e a escrita são os principais objectivos desta iniciativa invulgar, que arrancou no Dia das Bibliotecas Escolares. Estas estruturas existem há dois anos e funcionam nos estabelecimentos de ensino básico com mais de cem alunos, são apoiadas pelo Ministério da Educação e, no caso da Santa Zita e Augusto Gil, têm vindo a promover o empréstimo domiciliário de livros. Características que excluem por enquanto as escolas rurais do projecto, embora o objectivo seja alargá-lo no próximo ano a todo o concelho, segundo António Oliveira, director da biblioteca municipal da Guarda. O epílogo do “Vamos escrever um livro: ao ponto acrescenta um conto!” terá possivelmente lugar a 2 de Abril com a apresentação/lançamento destes cinco livros de prosa e poesia. «Não será uma edição simbólica e terá mesmo vários exemplares», sublinha o responsável.

Luis Martins

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