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Entre o manto e a crosta

Mitocôndrias e Quasares

No artigo anterior seguimos na pegada de Jules Verne no interior da Terra, hoje continuamos esse percurso fazendo um zoom in nas camadas imediatamente a seguir ao núcleo – o manto e a crosta.

O manto é uma camada com 2.900 quilómetros de espessura formada por rochas mais densas do que a crosta terrestre. A cerca de 670 km de profundidade produz-se a aceleração das ondas sísmicas (que resultam de movimentos bruscos no foco de um sismo) e isto permite definir um limite entre o manto superior e o inferior. Trata-se de um fenómeno que é produto de uma alteração da estrutura, que passa de um meio plástico para outro rígido, sendo possível que se mantenha a composição química em geral.

A crosta continental cresceu por uma diferenciação química do manto superior, que se iniciou há 3.800 milhões de anos. Na zona superior do manto ocorrem correntes de convenção, semelhante à água quente que ferve numa panela, que se deslocam da porção mais quente (a inferior) para a mais fria (a superior). Estas correntes de convenção são o motor que move as placas da crosta terrestre.

A zona de transição entre a crosta e o manto terrestre tem o nome de descontinuidade de Mohorovcic, tendo sido situada entras as placas da litosfera rígida e a astenosfera plástica. No entanto, estudos recentes indicarão que essa fronteira se encontra, na realidade, mais abaixo, a cerca de 70 km abaixo da crosta oceânica e mais 150 km abaixo da crosta continental, ou seja, em pleno manto superior. Assim, o manto que se situa imediatamente por baixo da crosta é composto por materiais relativamente frios (rondariam os 100ºC) e isto demonstraria que a descontinuidade de Mohorovcic é mais química do que física.

Na zona do manto superior, as velocidades das ondas sísmicas oscilam entre os 8 e os 8,2 km/s. Isto indica que superam as registadas na crosta inferior, que vão dos 6,5 aos 7,8 km/s. Os dados geofísicos demonstram que entre os 50 e os 200 km de profundidade ocorre uma diminuição da velocidade das ondas sísmicas longitudinais (que vibram no sentido da propagação e que são chamadas ondas P) e uma forte atenuação das ondas sísmicas transversais (que vibram no sentido transversal à propagação e são chamadas ondas S). Por isso, esta região é conhecida pelo nome de “zona de baixa velocidade”.

Ali predominam as rochas denominadas peridotitos, que são rochas de textura granulosa formadas usualmente por minerais dos tipos olivina magnésica e piroxena. Embora sejam raras à superfície, afloram em algumas ilhas vulcânicas, em camadas levantadas por via de formação de montanhas.

O manto inferior inicia-se na descontinuidade de Mohorovicic e estende-se até à descontinuidade de Gutenberg, aproximadamente a 2.900 km de profundidade, na transição para o núcleo. Está separado da astenosfera pela descontinuidade de Repetti, sendo assim uma zona essencialmente sólida e de muito baixa plasticidade.

Nesta região, a densidade aumenta de forma linear de 4,6 para 5,5. Vários modelos propostos sugerem também que o manto inferior contém mais ferro do que o manto superior. Além disso, a temperatura varia: passa de 1.000 para 3.000 ºC e aumenta com a profundidade como consequência da desintegração radioativa. Aumenta também por condução a partir do núcleo externo, devido ao magnetismo terrestre.

Quanto à camada que está imediatamente a seguir ao manto – a crosta terrestre, podemos referir que não é homogénea. Trata-se da camada onde o Homem assenta toda a sua atividade, estando dividida na camada oceânica e na camada continental. A camada oceânica, que está por baixo dos oceanos, tem apenas cerca de 5 km de espessura e é formada por minerais mais pesados do que os da camada continental, que alcança até 65 km de espessura.

Por fim, é de salientar que a crosta continental caracteriza-se por ser composta por rochas ácidas, sedimentos de muito maior espessura e uma maior percentagem de rochas sedimentares e metamórficas. A crosta oceânica, pelo contrário, é formada essencialmente por rochas basálticas, os sedimentos são muito escassos e as rochas metamórficas menos frequentes. Desta forma, a crosta continental é ligeiramente menos densa do que a oceânica e situa-se acima desta.

Façamos como o professor Lindenbrock e seus sobrinhos, e iniciemos 2015 embrenhados na descoberta do centro da Terra.

Por: António Costa

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