A semana passada foram conhecidos os resultados das colocações no Ensino Superior Público e, tal como se previa, são cada vez mais as vagas sobrantes.
Das 46.399 vagas iniciais sobraram 12.898, havendo apenas 5.546 alunos por colocar. Sabendo-se que muitos estudantes optam pelo ensino privado e não efectuam a sua matrícula no estabelecimento público onde foram colocados, a segunda fase de candidaturas deverá ter cerca de 15 mil vagas para menos metade dos candidatos, mesmo considerando os alunos que apenas reuniram condições de candidatura na 2ª chamada dos exames.
As vagas sobrantes permitem adivinhar grandes problemas financeiros nas instituições de Ensino Superior, pois o financiamento depende em grande medida do número de alunos de cada instituição. Se a verba transferida actualmente não chega sequer para as despesas correntes, a redução do número de alunos colocará em causa o normal funcionamento das instituições que passarão a depender ainda mais de receitas próprias, como as propinas.
O actual excesso de vagas é o resultado de políticas governamentais que nunca planearam uma rede nacional de Ensino Superior. Para responder às exigências de autarcas, reitores e presidentes de politécnicos, os diferentes governos aprovaram medidas avulsas, facilitando a abertura de cursos e vagas quando o decréscimo da população já era notório. Um antigo ministro da tutela ainda sugeriu a criação de redes que mantivessem uma oferta diversificada em cada região, mas nesse mesmo ano permitiu a abertura de três cursos de Marketing na nossa região. O resultado está à vista: no primeiro ano que se aplicou a nota mínima, duas das escolas preencheram apenas metade das vagas.
Para atrair mais alunos, algumas escolas já estão a seguir estratégias mirabolantes, como permitir a entrada de alunos em Engenharia Civil sem que a prova de ingresso obrigatória seja Matemática. São estratégias como esta, entre muitas outras, que transformam a comparação entre colocações num mero exercício especulativo.
O Instituto Politécnico da Guarda é um dos exemplos onde habitualmente se compara o desempenho da ESE com o da ESTG. Trata-se, evidentemente, de um disparate pegado, pois são escolas com matrizes diferentes e disciplinas de ingresso diferentes. Se a média nacional do exames de Português – a prova mais pedida nos cursos da ESE – foi 11, e a de Matemática – a mais pedida na ESTG – foi 9,3, as percentagens de colocações só podem ser diferentes, com a ESTG em nítida desvantagem. Comparar os resultados das duas escolas só pode ser ignorância ou má-fé, muito na linha do que fez um certo gabinete de imprensa quando enviou para os jornais da região um comunicado onde diz ser a escola com melhor percentagem de colocações do interior centro e norte alentejano. Estes senhores comparam, por exemplo, um curso de Engenharia Civil que permite a entrada com a prova específica de Geometria Descritiva – uma das médias de exame mais altas – com outro que exige Matemática ou Física – as médias mais baixas. Por aqui se vê a honestidade da análise feita pelo tal gabinete de imprensa, que poderia aplicar-se a preços de hipermercado, mas não fica bem a uma instituição de Ensino Superior que se quer séria.
Para evitar este tipo de análises abusivas e moralizar o sistema de ingresso no Ensino Superior, torna-se essencial passar das 825 designações de cursos superiores existentes em Portugal para cerca de 80, estabelecendo condições de ingresso iguais para cursos com a mesma designação. Só depois disto será possível comparar desempenhos, nunca esquecendo que as escolas situadas nas regiões com maior densidade demográfica conseguirão, naturalmente, melhores resultados.
Por: João Canavilhas