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Encruzilhada social

Crónica Política

Tal como diz Miguel Torga: «Temos sempre nas nossas mãos o terrível poder de recusar!» Acrescento, recusar este caminho de hipocrisia, o trilhado pelos liberais e destruidores do Estado Social (visão social democrata), que se aprofunda também com figurinos que governam na linha da dita esquerda democrática, onde se inclui Hollande e outros.

Fiquei perplexo como alguns sacrifículos que desfilaram em França em defesa da liberdade de expressão são também eles, verdadeiros terroristas de Estado, responsáveis por milhares de inocentes que morrem às mãos de “soldados” interpostos por decisões dos “ditos”. A solução para estes é o estado securitário.

A esmagadora maioria dos “ditos” que participaram na “dita” manifestação à frente da GRANDE MANIFESTAÇÃO POPULAR em Paris têm desonrado os sacrifícios de gerações e gerações de trabalhadores que construíram esta Europa. Hoje, milhões de filhos de emigrantes portugueses, espanhóis, argelinos, marroquinos e um sem número de outros povos são excluídos e não têm oportunidade de qualquer projeto de vida, já não falo dos que morrem na travessia do Mediterrâneo, pois aí nem a solidariedade existe entre os estados que integram a UE para apoiar as vítimas de crápulas que os esmifram na origem. Os governantes da UE querem o dumping social para a mão-de-obra escrava e tem desprezado o valor do trabalho. O roubo aos trabalhadores de mais de 9 mil milhões de euros na administração pública e de mais de 7 mil milhões no setor privado insere-se na filosofia ideológica que tem dominado na Europa. Há várias formas de terrorismo, este mata silenciosamente a dignidade humana.

O ocorrido em Paris na sede do jornal “Charlie Hebdo” insere-se, infelizmente, num conjunto de crimes perpetrados por grupos extremistas e Estados, estes que financiam os primeiros, direta e indiretamente. Não podemos esquecer a morte de inocentes, não apenas no continente europeu, mas também noutras partes do globo. Não podem ser desligados de uma situação internacional marcada por ingerências e agressões contra Estados soberanos, através da instigação de conflitos religiosos e étnicos e da promoção de forças de extrema-direita, xenófobas e fascistas. Uma realidade que é acompanhada por políticas que aumentam a exploração e a exclusão social, nomeadamente nos países da União Europeia, onde se inclui o nosso.

Tem sido badalada a grave situação das urgências hospitalares e a deterioração significativa da prestação dos cuidados de saúde às populações, com impactos dramáticos para a vida das pessoas, é mais um exemplo das consequências dos cortes orçamentais levados a cabo pela política irresponsável desenvolvida pelo governo do PSD-CDS. A falta de recursos humanos estende-se a todos os profissionais de saúde, mas mantêm a vergonha dos ganhos dos intermediários que, pomposamente se designam de empresas de trabalho temporário, tratando os cuidados de saúde como mercadoria.

O encerramento de serviços de cuidados de saúde primários; a insuficiência do número de profissionais nos serviços são, entre outros, problemas que teriam sido resolvidos se tivessem tido resposta atempada – como sempre, o PCP tem defendido e apresentado propostas que sistematicamente têm sido chumbadas na Assembleia da República pelo PSD e CDS, e nalguns casos também pelo PS.

Faço um paralelismo entre os “lobos vestidos de cordeiro” que passearam nas ruas de Paris e os que surgem fugazmente nalguns espaços públicos a defender as populações, mas na Assembleia da República votam contra as propostas que genuinamente defendem as funções sociais do Estado.

São parte integrante de uma opção ideológica e de uma estratégia economicista do governo que visa a degradação e descredibilização do SNS com vista à sua destruição. Cabe-lhe a si, a responsabilidade de mudar tudo isto!

Por: Honorato Robalo

* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP

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