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Empresários entregam abaixo-assinado a Joaquim Valente

Em causa está o recuo no projeto de requalificação do parque industrial que a autarquia e o NERGA desenvolviam há dois anos

A totalidade dos empresários instalados no parque industrial da Guarda já manifestou a sua indignação à autarquia pelo retrocesso no processo de requalificação daquele espaço. O abaixo-assinado foi entregue, em mãos, a Joaquim Valente esta semana.

«Indignação» é o sentimento que reina entre os 45 empresários do parque industrial da Guarda. Depois da prometida requalificação do espaço por parte da autarquia, o processo sofreu um retrocesso e a degradação daquela que é até agora a principal zona para indústria da cidade está a preocupar aqueles que ali trabalham diariamente. «Sentimo-nos envergonhados quando somos visitados por pessoas de fora da Guarda pelo estado de degradação do parque industrial», garante Pedro Tavares, o porta-voz do descontentamento. O protesto ficou lavrado anteontem, numa conferência de imprensa realizada no NERGA – Associação Empresarial da Região da Guarda em que participaram alguns empresários. Depois do projeto de requalificação do parque industrial estar a ser desenvolvido há dois anos por aquela entidade e pela Câmara da Guarda, tendo sido candidatado e aprovado no QREN, Joaquim Valente revelou não haver condições financeiras para o seu cumprimento, situação que apanhou todos de surpresa.

A requalificação estava orçada em cerca de 1,2 milhões de euros, dos quais 25 por cento seriam suportados pela autarquia. «Depois de requalificado, o parque seria uma espécie de “condomínio privado” de empresas. O NERGA fez tudo o que lhe foi pedido, os empresários responderam afirmativamente a esse desafio, ficámos descansados. O que se estava a pedir era uma pequena requalificação», critica Pedro Tavares. A opção da autarquia não caiu bem entre os industriais, que subscreveram um protesto numa carta já entregue, em mãos, a Joaquim Valente. Sem viabilidade fica, ainda, um segundo projeto desenvolvido pela associação empresarial – o “Greenparque”, que previa a existência de equipamentos comuns a todas as empresas ali instaladas, configurando-se como a continuidade da requalificação com uma componente eminentemente ambiental. Orçado em cerca de 1,4 milhões de euros, e já com candidatura submetida ao PROVERE, esta aposta não comportaria encargos adicionais para a autarquia.

«Se o primeiro projeto não se concretizar, este não vai avançar e vai perder-se toda a requalificação do parque industria», alerta o presidente do NERGA. Confrontado com a transferência das verbas destinadas à requalificação da zona industrial para a reabilitação de estradas municipais, Pedro Tavares diz-se «chocado» com a decisão da autarquia. «Não estou a dizer que não precisamos de estradas, mas se a Câmara não tem dinheiro para obras como esta, deveria pensar o que está a fazer, por exemplo, em relação às pessoas que está a empregar maciçamente nas suas instalações», acusa. O responsável faz mesmo a comparação com a autarquia de Castelo Branco, que «deve ter menos 400 trabalhadores que a da Guarda e é uma cidade maior».E continua: «A mil euros por mês, dá cerca de cinco milhões por ano que a Câmara gasta a mais, valor que no QREN dão obras de 20 milhões. Em 10 anos são 200 milhões de obras que faltam aqui», contra-ataca Pedro Tavares.

Relativamente à percentagem que caberia ao município se avançasse com o projeto, o dirigente lembra a parcela recentemente vendida – por cerca de 280 mil euros – «que dava para requalificar o parque industrial». Daí sustentar que «ninguém entende a gestão da Câmara da Guarda, que não tem obras e está cheia de dívidas», afirma. «O passado vai-nos custar muito caro, as cidades à nossa volta – que foram melhor geridas – vão continuar a crescer e nós vamos estagnar», adverte Pedro Tavares. Carlos Beirão, sócio-gerente da Metalguarda (empresa de metalomecânica) – instalada no parque industrial há 15 anos com cerca de 40 trabalhadores – afirma que a sua firma «tem sido vítima da degradação» do local. «Por vezes, os nossos camiões não podem descarregar o material porque não têm espaço para aceder às nossas instalações. Para entrarem, têm que passar por cima do passeio, que, por vezes, está cheio de carros», exemplifica.

Por sua vez, Fausto Tavares considera que o parque industrial «é uma das “salas de visita” da Guarda e é a cara e a vergonha da Câmara que temos». O sócio-gerente da Egiquímica – que ali labora há 12 anos e emprega 37 trabalhadores – diz que «as únicas coisas boas» que tem o seu lote foram feitas por si. «Quando não se liga ao emprego, está tudo dito», lamenta.

«Estamos a ponderar sair da zona da Guarda»

Outro dos temas abordados na conferência de imprensa foi a influência negativa que as futuras portagens na A23 e A25 podem trazer para as empresas da região, nomeadamente as 45 que neste momento se encontram instaladas no parque industrial da Guarda.

«Este será um problema gravíssimo para nós», alerta o presidente do NERGA. Pedro Tavares defende mesmo que os empresários «têm que deixar de bater palmas aos políticos [líderes nacionais do PS e PSD], quando se deslocarem à Guarda». E vai mais longe: «Se cá vierem ao NERGA, deixo-os entrar e a seguir ponho-os na rua». Tudo porque considera «demais toda esta situação». Com as novas medidas que afetam as SCUT, uma viagem de ida e volta num veículo de classe 2, da Guarda a Aveiro, o custo será de 64 euros de portagens, um dos muitos percursos que fazem parte das rotas das empresas instaladas na Guarda, «qualquer coisa de alucinante», na opinião de Pedro Tavares, que contesta «o silêncio» do poder político relativamente à problemática. Com estas medidas, Carlos Beirão explica que «a situação será muito complicada e estamos a ponderar sair da zona da Guarda», diz. A mesma ideia tem Fausto Tavares, que considera o espaço «vendável para supermercados ou produtos de lazer, mas depois quero ver quem é que vai gastar esse dinheiro, porque não há emprego», lembra.

Rafael Mangana O pavimento deteriorado é um dos problemas com que os veículos se deparam diariamente

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