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Empreendedorismo

Menos que Zero

Um desfile de moda encerrou a CAPA 2005, uma actividade onde os alunos do departamento de Comunicação e Artes mostraram os seus trabalhos finais. Os projectos agora apresentados – roupas, jogos interactivos, instalações e campanhas publicitárias – são apenas uma parte das centenas de trabalhos desenvolvidos nos vários departamentos e que, invariavelmente, acabam na gaveta dos docentes. E é pena. Uns melhores outros piores, estes trabalhos são a materialização de ideias que, nalguns casos, poderiam constituir sucessos empresariais. Infelizmente, grande parte destas ideias acaba resumida a uma classificação, um simples número escrito numa pauta colocada no átrio da escola. Cada trabalho arquivado é uma oportunidade perdida e essa é a razão pela qual Portugal continua a ser um dos países desenvolvidos com menor registo de patentes.

Uma universidade não é um supermercado de licenciados, nem sequer uma fonte de receitas para as empresas que a fornecem. Uma universidade é um viveiro de ideias, um local onde se desenvolve investigação destinada ao mercado. Não é o que acontece em Portugal, onde empresas e universidades vivem de costas viradas. Enquanto os professores se fecham nos seus projectos e os alunos desenvolvem trabalhos unicamente destinados à nota, as empresas definham à míngua de novos ideias, numa altura em que a mão-de-obra barata já não é uma vantagem competitiva.

O tão falado choque tecnológico é uma solução para o país, mas para isso não chega investir em estruturas. É preciso revolucionar as mentalidades e levar os jovens licenciados a abandonar esta ideia muito portuguesa de preferir o emprego sem risco, mas pobremente remunerado, ao risco da empresa própria, eventualmente associada a ganhos pessoais, profissionais e sociais.

Para que as ideias não morram à nascença, urge incentivar os alunos das mais diversas áreas a constituírem empresas próprias. Uma boa ideia de um licenciado em informática terá mais hipóteses de sucesso se um licenciado em Gestão desenvolver um modelo de negócio para a ideia. Um licenciado em Design Multimédia pode juntar-se a um de Comunicação para formarem uma empresa que forneça infografias aos jornais online. Um licenciado em Engenharia Civil pode associar-se a um de Química na procura de novos materiais e soluções para o sector da construção.

O CIEBI e o Parkurbis são duas infra-estruturas capazes de potenciar estas ideias, porém há uma outra condição absolutamente necessária: a criação de mentalidades empreendedoras nos nossos estudantes. Esta vertente depende em grande medida de pais e professores, pelo que todos somos responsáveis. Caso falhemos, projectos como o Parkurbis estarão condenados a ser mais um elefante branco, mais uma oportunidade perdida para a região e para o país.

Por: João Canavilhas

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