«Tivemos orgulho em servi-lo. Até sempre, Miguel». No barracão que serve de quartel à corporação de bombeiros de Vila Franca das Naves, em Trancoso, nenhum voluntário conteve as lágrimas na última despedida ao comandante Miguel Madeira, na passada quarta-feira. O momento, marcado por uma longa salva de palmas, foi um dos mais comoventes do funeral do também presidente da Junta, morto a tiro na véspera por causa de umas pedras. O corpo do autarca foi depois transportado pelas ruas da vila numa última homenagem muito sentida pelos vilafranquenses.
Centenas de populares e bombeiros de vários pontos do distrito e do país marcaram presença nas cerimónias fúnebres de Miguel Madeira, 36 anos, em que se destacaram também o secretário-geral do PSD, Miguel Macedo, o secretário de Estado da Administração Local e o vice-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. Miguel Macedo não quis deixar de homenagear «um autarca exemplar do PSD, trabalhador e dedicado à causa pública», enquanto Eduardo Cabrita, que representou o primeiro-ministro e o ministro da Administração Interna, enalteceu, na pessoa de Miguel Madeira, «todos os autarcas que, em associação com as populações, criam desenvolvimento». O governante lamentou ainda as circunstâncias «infelizes e trágicas» em que ocorreu a morte do presidente da Junta de Vila Franca das Naves. Já Paulo Hortênsio considerou Miguel Madeira «um exemplo de autarca, de comandante dos bombeiros e de dirigente da Federação de Bombeiros do Distrito, sempre pronto a ajudar», reconhecendo que o seu desaparecimento deixa «”orfã”» uma corporação ainda jovem e constituída por muitos jovens. «Acho que perderam uma referência e vai ser preciso acompanhá-los de perto para que não se sintam perdidos ou desmotivados», acrescentou o dirigente.
Depois do funeral, dezenas de populares rumaram ao local do crime para um derradeiro tributo ao jovem edil, que se recandidatava a mais um mandato pelo PSD, mas com muita vontade de demonstrar a sua revolta. Contudo, a casa do presumível homicida estava a ser guardada por elementos da GNR, não se tendo registado quaisquer desacatos, apenas ficou patente a indignação dos habitantes de Vila Franca das Naves contra João e Amália Loureiro, que tinham sido ouvidos horas antes no tribunal de Trancoso. Ao primeiro, também conhecido por “O Transmontano” por ser natural de Montalegre, o juiz aplicou-lhe a prisão preventiva, enquanto a mulher, detida posteriormente pela PJ por suspeita de autoria moral do crime, vai aguardar o desenrolar do processo em liberdade, com termo de identidade e residência. Uma decisão que não caiu bem na vila, onde há um sentimento de injustiça, pois ninguém duvida que Amália Loureiro foi a grande causadora da tragédia e dos problemas recorrentes com a vizinhança. Ao que tudo indica, a suspeita encontra-se actualmente na Guarda, numa instituição de cariz social, após os filhos terem alegadamente recusado acolhê-la até ao julgamento. Entretanto, Adelina Ferreira, número dois da lista de Miguel Madeira, assumiu a candidatura social-democrata à Junta vilafranquense. Já as pedras da polémica foram removidas do local na última terça-feira, uma semana depois da tragédia. Uma tarefa que decorreu com normalidade, já que os funcionários da Junta de Freguesia fizeram-se acompanhar pela GNR.
Luis Martins