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Em Maio comemorar Abril

Crónica Política

Volvidos 36 anos do momento libertador potenciado pelos Capitães de Abril muitos acreditaram ser o passo para uma outra sociedade.

Pena que esta referência em termos históricos não seja genuinamente comemorado como foi a alvorada libertadora do 25 de Abril de 1974. As mudanças verificadas permitem a todos que comemorem a revolução dos cravos, comemorando coisas diferentes. Há quem comemore a liberdade, há quem comemore o sonho que parecia possível e continua a ser possível, mas também há os que tentam ser contrários aos ideais de Abril.

Em Maio comemorar Abril, muitos que já não têm acesso nos manuais escolares a uma profunda análise histórica de forma desprendida mas que possa traduzir os momentos de entusiasmo, de acção popular, de solidariedades que pareciam não ter fim, de transformações políticas que pareciam acontecer por assombro, mas que não foram. Exigiu o esforço de trabalhadores nas conquistas, a primeira traduzida no grande primeiro de Maio após a Revolução. A conquista do salário mínimo nacional(SMN) foi sem dúvida uma aspiração de efectiva transformação social capaz de aproximar os rendimentos do trabalho para o alcance de melhores condições de vida dos trabalhadores, sobretudo na aposta da melhoria dos salários. O que efectivamente aconteceu foi a fasquia do SMN ser a bitola minimalista das opções patronais e dos governos constitucionais após o 25 de Abril, todos da responsabilidade do PS/PSD/CDS.

Não basta recordamos as canções revolucionárias, dou os parabéns ao Teatro Municipal da Guarda na comemoração do seu 5.º aniversário, mais ainda com a participação de um cantor de Abril, apesar da ausência de financiamento do poder central, este, não cumpre a Constituição de Abril.

As conquistas sociais de Abril contaram com a participação dos trabalhadores e das suas organizações, principalmente da CGTP-IN, no entanto surgiram muitos inimigos e infelizmente alguns deixaram a sua militância, dos quais aqueles que se arvoraram em fervorosos revolucionários e que afinal, quando os ventos mudaram, eles mudaram ainda mais depressa que o vento.

Nas escolas já não cantam a gaivota e muitas outras canções de Abril, importará referir que é no ensinamento e na transmissão às novas gerações, mas que infelizmente na escola pública não transmite aos alunos o que de mais exaltante aconteceu, desde a reforma agrária, nacionalizações, controlo operário, não é politicamente correcto, pois bem os fazedores dos programas escolares têm rosto, e importa referir que o Partido Socialista foi efectivamente o primeiro inimigo da Reforma Agrária.

O bloco central dos interesses com a anuência do actual Presidente da República continuam na senda da destruição das conquistas plasmadas ainda na Constituição da República Portuguesa.

Faço um apelo a todos aqueles que acreditam como eu nas conquistas sociais de Abril assumam um papel activo no primeiro de Maio de festejar a disponibilidade de continuar a acreditar num futuro onde a liberdade e a igualdade se encontrem, onde a democracia não se esgota em actos eleitorais e se cumpre na vertente política, cultural e económica. Contrariamente aos que nos pretendem fazer crer, os tempos que vivemos hoje não são consequência da revolução de Abril. São uma consequência do que ficou por cumprir de Abril.

A melhor forma de comemorar o 25 de Abril, não é a olhar para trás. É com os olhos postos no futuro, empenhados na sua construção, lutando para que se cumpram os seus ideais, também em Maio comemorando os seus 120 anos em Portugal possamos travar o caminho de destruição das conquistas sociais dos trabalhadores, mas também na exigência de novas políticas, há alternativas é necessário lutar.

Por: Honorato Robalo *

* membro do Executivo da DORG do PCP

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