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Elogio da vaidade

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A pretensão como método poderia ser interpretada como vaidade, mas o desejo de aspirar à sofisticação, ou ter o céu por horizonte, não pode ser menosprezado. O desejo doseado pela supervisão, ou o sonho balizado pela lei e pelas instituições, é seguramente um bom princípio da educação para um vencedor, um corredor de fundo. Um filho que se aplica em rotinas de treino, que forma estratégias sem colapso, que se exige uma performance sedutora, balizado pelo respeito, tolerância e educação é por certo um bom filho. A literatura é pouco mais que falar ou escrever, é uma pretensão de dar forma ao escrito de modo cuidadoso e nós aceitamos isso como bom. Literatura é pretensão linguística nesta asseveração. Portanto, um pretensioso arrasta algo mais que um desleixado ou um bandalho. A preguiça associada a um pretensioso cria a vaidade sem sustentação que é algo que toleramos mal. Convivi com muitos vaidosos sem obra, com muitos escritores de pasquim, com muitos maus caráteres polidos e por tudo isto enganadores. Dão como os príncipes com a casa desarrumada, os sapatos por engraxar, os dentes negros na frente. Há falta de exigência na presença e esta é a montra da vaidade. Prefiro um boçal transparente a um sinuoso fazedor de proveitos próprios. Assim, a pretensão como sedução da intelectualidade ou como aspiração à sofisticação é algo que acaba por me seduzir e se vier embrulhada de algumas doses de tolerância pela diferença, capacidade de ouvir o contraditório, reflexão fina, então estamos com pessoas superiores.

Por: Diogo Cabrita

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