Numa escola secundária de Vila Nova de Gaia, a estória de uma paixão entre duas raparigas transbordou do pátio da escola, de onde nunca deveria ter saído, para os jornais e a televisão. O caso foi já dissecado por Miguel Sousa Tavares e José António Saraiva, que compararam as miúdas, respectivamente, a duas actrizes porno exibicionistas e a dois recrutas do exército. Não acredito que os colunistas sejam homofóbicos, como têm sido acusados. MST, por exemplo, não declara que recusa olhar para cenas de amor sáfico, com raparigas oleadas e tangas mínimas. O escritor até escreveu uma vez que a sua Europa é a da tradição grega. Ora, é sabido que na Grécia os homens mais velhos brincavam – digamos assim – aos bombeiros com os rapazinhos que com eles privavam. Sousa Tavares não é contra a homossexualidade. Crê apenas que um beijo entre duas raparigas adolescentes é um bem demasiado precioso para ser desperdiçado desta forma em frente de estudantes imberbes. Os adultos sabem apreciar bem melhor a sumptuosidade de chochos entre fêmeas, como é possível aferir pela quantidade astronómica de sites com dedicação exclusiva ao tema.
Já ó futuro ex-director do semanário mais pesado da Península Ibérica considera mau exemplo para a tropa as carícias supostamente trocadas em corredores de escola. Segundo Saraiva, a disciplina militar pode sofrer graves abalos com putativos esfreganços entre camaradas. Devo assumir que concordo. Por exemplo, eu não fui à tropa e tenho pela disciplina militar o mesmo respeito que Lídia Jorge tem pela paciência dos leitores. E no entanto via atentamente a 1ª Companhia. Interessavam-me pouco os “enchimentos”, os exercícios ou a boina do Zé Castelo Branco. Em boa verdade, fiquei ali especado – e em vão – à espera de um momento de maior camaradagem e ternura entre a Vânia e a Diana. JAS não deve por isso ser fustigado. Por todos os outros editoriais que escreveu até à semana passada é que sim.
Por outro lado – e isto não é uma piada denotativa – os grupos de defesa dos direitos dos homossexuais não perderam tempo em acusar as práticas fascistas de professores e funcionários da Escola Secundária António Sérgio. O presidente do Conselho Executivo – que nunca gritou “Gaia não é Gaya!” – disse apenas que as raparigas vão reprovar o ano. Não entendo a gritaria. O senhor director só quis avisar que meninas que não gostam de rapazes perdem muito tempo a jogar futebol e ténis. E, já se sabe, depois desleixam-se nos estudos.
Adenda séria: Os grupos dos direitos LGBT querem fazer acreditar as boas consciências que as duas raparigas têm o direito de se amarem e de o manifestarem por serem lésbicas,. Erro deles. Elas têm esse direito por serem tão simplesmente seres humanos e cidadãs da República, não por fazerem parte de grupo minoritário ou serem vítimas de preconceitos. Da mesma forma, têm todo o direito de não quererem que ninguém se meta na vida delas nem que as transformem em exemplo dos moralismos bacocos de um lado e doutro da barricada a que assistimos nas últimas semanas.
EU VI UM ORNITORRINCO
Boletim clínico dos candidatos à presidência
Mário Soares sugere que todos os candidatos mostrem ao eleitorado os seus boletins clínicos. Não me parece mal. Um dos documentos exigidos na altura de assinar contrato com a Administração Pública é um atestado de robustez física e psicológica. Uma vez que a Presidência da República é o cargo máximo da Nação – o principal funcionário público – também na altura da candidatura devia ser exigido semelhante documento, que seria entregue no Tribunal Constitucional juntamente com a declaração de IRS.
Por: Nuno Amaral Jerónimo