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Eleições Autárquicas

Vai fazer nas próximas eleições autárquicas, previsivelmente em 2013, trinta e sete anos que o PS está à frente do Município da Guarda. Houve gente que aqui nasceu e morreu sem ter conhecido mais nada senão isto, que assistiu ao melhor que o PS ofereceu, como a infra-estruturação das freguesias e a política cultural, e ao seu pior, como a prisão de um seu presidente de câmara, por corrupção passiva, ou a destruição da paisagem urbana e a cedência aos interesses dos especuladores imobiliários e empreiteiros – sem falar no péssimo planeamento do parque industrial e no mau e tardio aproveitamento da privilegiada situação geográfica da cidade, ou das suas potencialidades turísticas. É difícil, a quem nunca saiu daqui, fazer o saldo geral da governação PS, que afinal de contas vive-se hoje bem melhor do que em 1976, e o seu único ponto de referência é um passado cada vez mais longínquo. Mas também se vive melhor em Viseu, em Castelo Branco ou na Covilhã – e se calhar melhor e com mais perspectivas de futuro do que por cá. Isto é, nada há que justifique tanto tempo de um mesmo partido à frente de uma câmara, e muito menos o seu próprio mérito.

A alternância é uma componente essencial da democracia e a sua possibilidade é uma espada sobre a cabeça dos governantes. Se estes, mesmo sendo incompetentes, mesmo roubando, mesmo utilizando o município como se fosse coisa sua, ganharem na mesma, vão sentir-se legitimados a prosseguir o rumo e a deixar tudo como está, vão achar que são mesmo donos “disto” e vão agir em conformidade. Uma câmara assim vai continuar a tratar bem os empreiteiros amigos e a dar empregos a quem ajudou na campanha, à custa evidentemente da saúde financeira da autarquia mas com uma evidente vantagem futura: o aumento da base clientelar de apoio. Se um eleitorado, como o de Gondomar, der o voto a quem lhe dá bilhetes para concertos de um cantor pimba, fica menorizado e torna-se possível instrumento do pior que há na política. Se outro, como o de Vila Nova de Gaia, reeleger com uma votação “iraquiana” (dos tempos de Saddam) um presidente que tornou a sua câmara a segunda mais endividada do país, então é porque a tão propalada sabedoria do povo português se especializou, pelo menos em Gaia, noutros assuntos que não os financeiros.

Há outras coisas que começam a inquietar nesta democracia. É cada vez mais evidente que as qualidades necessárias ao desempenho de um cargo político não são as mesmas que se exigem aos candidatos a esse cargo. Estes disputam ao longo da campanha eleitoral uma espécie de campeonato em que são contabilizados, um a um, os beijos às peixeiras, os apartes contundentes, as gafes de linguagem, os quilos de bifanas. Há assim péssimos presidentes que foram óptimos candidatos, e péssimos candidatos que poderiam ter sido grandes presidentes. Temos o país cheio de casos destes. Mas pior, muitos dos bons presidentes de câmara que há em Portugal, e há muitos, não ganhariam as eleições se fossem candidatos em concelhos dominados por cliques corruptas e incompetentes – e estas não faltam.

Posto este desabafo, regressemos à Guarda. Crespo de Carvalho tinha e tem todas as condições para vir a ser um excelente presidente da câmara, mas precisa de aprender a ser melhor candidato e a jogar melhor o jogo eleitoral. Joaquim Valente, sendo possivelmente o melhor presidente que o PS já teve na Guarda, ainda vai ter de o demonstrar. As suas qualidades humanas, recompensadas na eleição, poderão ser postas à prova quando, mais tarde ou mais cedo, tiver de enfrentar o aparelho do partido e as suas exigências. Para já, pode e deve gozar esta brilhante vitória. Não deve é esquecer o seu anunciado contrato com os guardenses. Eu, por mim, guardei-o no computador. Nunca se sabe se terei de o reler.

Por: António Ferreira *

* Mandatário da candidatura do PSD à Câmara da Guarda

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