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Electrificação da linha da Beira Baixa é um «logro»

Grupo de Amigos do Caminho de Ferro da Beira Baixa “6 de Setembro” defende correcção de traçado

A electrificação da linha da Beira Alta é um «logro» para o Grupo de Amigos do Caminho de Ferro da Beira Baixa “6 de Setembro”, enquanto a REFER não reabilitar o traçado. Até lá, a electrificação é a «panaceia» de todos o males de uma ferrovia com mais de um século de existência e onde a actual intervenção, que já custou ao eráriopúblico cerca de 85 milhões de euros, apenas permitirá ganhar 10 minutos na viagem em Intercidades entre Lisboa e Castelo Branco. O aviso é de Hélder Bonifácio, presidente daquela entidade, para quem «não é admissível que um comboio demore em 2004 quase tanto como há dez ou quinze anos atrás».

Para o Grupo de Amigos do Caminho de Ferro da Beira Baixa “6 de Setembro”, que tem funcionado nos últimos anos como “consciência crítica” da requalificação da via, a CP não tenciona reduzir nesta fase o tempo de viagem entre a capital e a cidade albicastrense «para dar o benefício dessa vantagem à electrificação da linha». O problema, segundo o dirigente, é que um comboio «não anda mais depressa» por ser eléctrico, a diesel ou a vapor, mas por causa da via. «Quando houver electrificação da linha da Beira Baixa, vamos ter máquinas que dão 220 quilómetros à hora a puxar o Intercidades mas que irão fazer o percurso a 80, que é a velocidade máxima de grande parte do trajecto entre Lisboa e a Covilhã», garante Hélder Bonifácio, que recorda que a associação esteve sempre contra «esta» modernização da linha. «O que a REFER propôs não presta para nada, porque o primado da intervenção é apenas a electrificação e não a correcção do traçado para as composições poderem circular com mais velocidade», refere, verificando, de resto, que o próprio projecto não foi cumprido, pois não se emendaram partes da linha nem se tiraram as curvas como estava projectado. «Quiseram convencer-nos à viva força que a base da modernização está na electrificação, que é mais barata para a empresa e menos poluente, mas, pelos vistos, a REFER não está preocupada em reduzir o tempo das viagens», acusa, dizendo não fazer sentido que se gastem 85 milhões de euros para ganhar apenas 10 minutos entre Lisboa e Castelo Branco.

Hélder Bonifácio não acredita na meia hora «propagandeada» pela REFER quanto ao Intercidades, afirmando mesmo tratar-se de uma meta «ridícula» que faz «rir» os associados do “6 de Setembro”, pois sabem que «20 minutos dessa meia hora é a troca de máquina que não se faz e que a priori se ganha». Um «truque de marketing» que não ilude o verdadeiro problema da linha da Beira Baixa: «A manter-se o traçado actual não será a electrificação da via que vai permitir reduzir o tempo das viagens», adianta, apontando o exemplo espanhol, que tem «milhares de quilómetros» por electrificar mas onde as composições a diesel circulam a uma velocidade média superior a 100 quilómetros por hora. «Bastava seguir-lhes o exemplo para ficarmos bem servidos», adianta o responsável, que se diz um “aficionado” dos comboios. No entanto, «fundamental» é mesmo a conclusão da modernização da linha até à Guarda, por se tratar de um troço «arcaico» onde subsistem carris e pontes do século XIX. Mas até aqui as obras têm algo de polémico. O troço está fechado à circulação desde Agosto por causa da substituição e beneficiação das pontes entre a Guarda e a Covilhã com o objectivo de melhorar as condições de circulação e permitir o aumento das velocidades do traçado.

A sua reabertura esteve agendada para dia 14 de Dezembro, mas a via permanece fechada. «Isto é inédito, pois nunca na história do caminho-de-ferro em Portugal se fechou uma linha por causa das obras. A linha da Beira Baixa foi o primeiro caso», lamenta. Entretanto, o dirigente defende que a linha «não faz sentido» sem a ligação à Guarda, porque é uma via «completar e alternativa» à da Beira Alta, embora também seja necessário reabilitar o traçado. «A nossa posição sempre foi a de articular a linha Beira Baixa com a da Beira Alta e até já dissemos que era de todo o interesse recolocar comboios que existiram até há 30 anos atrás e que eram circulares. Vinham de Santa Apolónia, passavam por Castelo Branco, Guarda, Coimbra, regressavam a Lisboa e vice-versa», adianta.

Luis Martins

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