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Eficiência

Por mais que queiram, por mais soluções imaginativas que arranjem em alternativa, os nossos actuais problemas não se resolverão sem mais trabalho e menos despesa. Podem falar das maravilhas da desvalorização fiscal, do aumento de impostos sobre os ricos ou os apenas remediados, da recuperação, com a saída do Euro, de instrumentos de política monetária, que voltamos sempre ao mesmo: temos mesmo de gastar muito menos e de trabalhar muito mais. Convinha também reavaliar algumas velhas ideias feitas, nas quais se baseia alguma da nossa habitual desgraça.

Dizia há tempos João Jardim, sempre ele, que os investimentos feitos na ilha tinham inspiração keynesiana. Duvido que tenha lido Keynes, e muito menos que o tenha compreendido: não basta gastar dinheiro a esmo, aplicar betão aos quilómetros cúbicos, para desenvolver uma economia. Por um lado o dinheiro não vai sempre para os sítios certos, com o efeito produtivo pretendido e, por outro, há investimentos de que resulta sobretudo despesa. Vejam o caso, por exemplo, dos estádios do Euro. Depois de 2004 e do generoso espalhar de dinheiro pelos muitos consórcios de construção civil que se encarregaram dos trabalhos, temos agora o desespero da Câmara de Aveiro, desesperada com as despesas de manutenção do Estádio do Mar. Fala-se já em resolver radicalmente o problema e terraplanar tudo (mais uma obra keynesiana destinada a desenvolver a economia).

Outra recente discussão é a que envolve as possíveis alterações ao Código do Trabalho, na parte que toca na justa causa decdespedimento. Revoltam-se os sindicatos contra a possibilidade de se despedir um trabalhador por falta de produtividade ou incumprimento de objectivos. Poderia dizer-se que os sindicatos não querem que um trabalhador seja despedido, por mais incompetente e improdutivo que seja, por mais que, com a sua incapacidade e a dos outros como ele, coloque em risco os postos de trabalho dos colegas mais produtivos. Talvez não seja isso, não é de certeza, e os sindicatos se preocupem com os possíveis abusos que estas alterações à lei podem permitir. Mas se assim é, então deviam preocupar-se com as cláusulas de salvaguarda e não com o princípio em si. Deveriam exigir, por exemplo, que a produtividade média de uma empresa fosse objectivamente medida, sendo os resultados verificáveis. Que os objectivos fixados fossem aferidos com o critério de um trabalhador médio, nas mesmas circunstâncias. Em vez disso, parecem agarrados a um mundo que já não existe, recheado de direitos adquiridos e privilégios irrealistas.

Por: António Ferreira

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