«Vende-se. Zona Central da Guarda. Prédio de prestígio, cave, r/chão e 1º andar». O letreiro vem com letras gordas numa das páginas do caderno Imobiliário no semanário “Expresso”, há algumas semanas. Trata-se do imponente edifício, sede do Montepio Egitaniense, na rua Vasco da Gama, junto ao Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP) da Guarda. O Montepio Geral colocou à venda o imóvel daquela secular instituição bancária egitaniense, que se encontra abandonado há algum tempo.
Contactados por “O Interior”, os responsáveis do departamento imobiliário do Montepio pouco ou nada adiantaram sobre o negócio. Segundo Sílvio Salvador, daquela secção, «é somente um imóvel do Montepio que está neste momento para alienar. E nesta altura estamos a recolher as propostas», disse, escusando-se a adiantar se já receberam muitas, tal como o valor pelo qual pretendem vender o Montepio Egitaniense. O segredo a alma do negócio. Rezam as crónicas que em 1866, Sande e Castro e outros homens de bem, dedicados aos problemas sociais, elaboraram e aprovaram os estatutos de uma obra que viria a encher de orgulho muitos guardenses. A par dos muitos benefícios concedidos aos sócios, através de apoio médico ou enfermagem, pagamento de radiografias, desconto nos medicamentos, ou outros, criaram como fonte de receitas a Caixa Económica. Ali fazia-se empréstimo de dinheiro a juros ou através de penhora de bens, móveis e imóveis. Ao longo de muitas décadas foram milhares de pessoas e famílias que receberam apoio do Montepio Egitaniense.
Fundada em Janeiro de 1904, a Caixa Económica da Guarda foi criada para suportar o espírito de entreajuda que prevaleceu à constituição do Montepio Egitaniense, seu antecessor, mas nunca conseguiu adaptar-se ao feroz mercado bancário moderno. A sede foi construída a partir da aprovação, em 1932, do projecto executado pelo engenheiro Bernardo Ernesto Moniz da Maia.
Ao longo do tempo o património foi aumentando e à casa-mãe, situada no centro da cidade, veio juntar-se uma série de apartamentos construídos nos terrenos da instituição. Porém, a falta de dinamismo e engenho dos órgãos sociais, somando a passividade dos sócios, foi causando a sua degradação económica. Entretanto, em Junho de 1998, o Banco de Portugal decidiu aplicar um ónus aos cheques da Caixa Económica, cobrando mil escudos pelos encargos decorrentes da impossibilidade dos cheques poderem ser processados por leitura óptica. Situação que implicou um custo acrescido para os seus clientes, obrigados a pagar uma taxa de compensação sempre que recorressem a outra entidade bancária.
Esta medida foi considerada por muitos como a última «fatalidade» da Caixa Económica da Guarda, instituição bancária da cidade mais conhecida por Montepio Egitaniense. No entanto, nessa altura já tinham sido encetadas conversações com, nomeadamente, o Montepio Geral, banco que pretendia adquirir a Caixa Económica para adiar a entrada em vigor desse ónus. Aquela instituição bancária estava disposta a integrar os clientes e os depósitos da Caixa Económica. Mas a última palavra sobre o negócio coube à Assembleia Geral dos sócios do Montepio Egitaniense, que ditou a sentença da sua morte. A integração da instituição de crédito mútuo da Guarda no Montepio Geral – Associação Mutualista foi oficialmente formalizada a 1 de Março de 2000. Durante aquela reestruturação foram ainda incluídos 557 associados provenientes do extinto Montepio Egitaniense. Recorde-se que foi também nessa altura que se descobriu que um funcionário teria desviado cerca de 60 mil contos.
Patrícia Correia