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«É uma tristeza, nos tempos em que estamos, acontecer uma coisa destas»

A ausência de saneamento básico e abastecimento de água tem levado ao “desaparecimento” progressivo da aldeia das Casas da Ribeira, na Guarda, que tem hoje pouco mais de 20 habitantes

Não há água canalizada nem esgotos a cerca de oito quilómetros da cidade da Guarda. A povoação das Casas da Ribeira, na freguesia de Arrifana, até tem uma estação-elevatória de tratamento de águas residuais numa das suas entradas, assim como uma conduta de esgotos a atravessar a estrada principal, mas ali só passam os resíduos de aldeias vizinhas. Já as casas da localidade servem-se de poços e fossas para responder às necessidades do dia-a-dia, o que desagrada aos moradores mas não tem tido resposta por parte das entidades competentes.

E se por um lado há quem tenha fossas no exterior, há casos em que estas são no interior das habitações e estão a degradar as respetivas estruturas. «Tenho a fossa dentro de casa e está-se a ir abaixo por causa disso», contou André Francisco a O INTERIOR, alegando que «isto tem sido esquecido pelas juntas de freguesia, que prometem mas não fazem nada». O “caricato” da situação está no facto de a aldeia ser atravessada pelos esgotos de outras, pelo que o habitante entende que «não os devíamos ter deixado passar, a não ser que fizessem logo a ligação à aldeia». Todavia, o tempo foi passando e não se sabe quando a «falha» poderá ser resolvida. «É uma tristeza, nos tempos em que estamos, acontecer uma coisa destas tão perto da cidade da Guarda», evidencia o agricultor, que foi «um dos primeiros» a construir um poço: «Mas não posso beber daquela água, é só para mantimento», indica, desalentado.

Os poços são a solução adotada pela generalidade da população, que só assim consegue executar tarefas indispensáveis. «Se não vier a água, ao menos que venham os esgotos», afirma Alfredo Marques, que mora na aldeia há 40 anos. Tal como outros habitantes das Casas da Ribeira, o residente costuma deitar «os esgotos para a ribeira» que passa entre a povoação e os campos, lamentando também que a questão não tenha sido resolvida há vários anos. «O povo, quando puseram aí a conduta, não se opôs», lembra Alfredo Marques, considerando que «atravessou terrenos, não sei se pagaram ou não, mas só deviam tê-los deixado passar se pusessem esgotos na aldeia», reitera. As promessas já estão feitas, mas a esperança num desfecho rápido é cada vez menor: «Prometem tudo, mas fazer não fazem nada», critica o habitante, salientando que «fizeram uns melhoramentos junto ao chafariz há pouco tempo, mas mais nada».

A falta de saneamento básico e água canalizada tem motivado o “desaparecimento” da localidade, uma vez que a população é envelhecida e não há capacidade para fixar mais famílias. «Tinha uma casa para vender mas, como não tinha esgotos, não rendeu o que devia nem a vendi», adiantou Maria Reis, acrescentando que, com a resolução do problema, «até gente da cidade para cá queria vir». A situação da moradora só não é pior para porque tem a fossa no pátio, mas esta alerta para as descargas na ribeira, que fazem com que os vizinhos «passem uma trabalheira e depois cheira lá mal no verão». «Tenho um poço e a água vai para a casa, mas há pessoas que não», salienta. Maria Reis confessa-se descontente por terem sido «ignorados»: «Estamos chateados porque passam os canos junto às casas e nós ficamos a ver navios», realça a habitante.

Também Celeste Monteiro acredita que a ligação aos serviços de água e esgotos seria uma forma de atrair mais moradores, bem como uma melhoria na qualidade de vida de quem reside na aldeia. «Eu desenrasco-me porque tenho uma fossa e a água que vem do depósito é muito boa», considera a residente, ressalvando que a população vive dificuldades diariamente. Apesar de morar nos arredores, Celeste Monteiro contacta com a realidade e as queixas dos vizinhos. «Todos falam nisso porque é o que mais precisam», frisa. O INTERIOR contactou a Câmara da Guarda mas não obteve resposta em tempo útil.

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