P – De que forma a representação entrou na sua vida?
R – O teatro entrou na minha vida já nos tempos de faculdade. Eu estava a estudar engenharia no Instituto Superior Técnico e decidi fazer um curso de iniciação ao teatro com um grupo que se chamava Os Satyros – que entretanto desapareceu. Gostei tanto daquele curso que, enquanto ele ainda estava a decorrer, inscrevi-me noutro curso e entrei para o GTIST- Grupo de Teatro do IST. Nesse ano andei a fazer curso atrás de curso. Até que uma amiga minha, que tinha conhecido nessa primeira formação nos Satyros, me disse que queria fazer as provas ao Conservatório de Teatro e eu pensei “Porque não?”. Acabei por entrar, deixei o Técnico e nunca mais olhei para trás.
P – É a segunda vez que participa nas visitas encenadas na Guarda. Há diferenças entre o ator que participou em 2011 e o de 2013?
R – Para mim, pessoalmente, a grande diferença deste ano tem a ver com o facto de já ter passado pela experiência das visitas encenadas da Sé. Já conhecia o projeto, tinha passado por todo o processo de criação e tinha feito mais de cem espetáculos. Toda essa bagagem permitiu-me encarar esta nova experiência de uma maneira mais audaz, divertida e relaxada.
P – Como foi relembrar Augusto Gil? Que tipo de trabalho antecedeu a apresentação da personagem?
R – Houve um trabalho de pesquisa da personagem feito pela Antónia Terrinha durante o processo de escrita do texto e, a partir dessas informações, criámos a personagem. Foi um processo normal e natural de sala ensaio, de repetição, de descoberta da voz, da atitude, do corpo, etc. Como neste caso eram duas personagens que estavam a ser construídas – o Augusto Gil e o Emmanuel de Mattos – houve também o cuidado de diferenciar as duas figuras muito bem.
P – Quais as principais diferenças entre a personagem desenvolvida na Sé Catedral e Augusto Gil?
R – A época, o estilo e a própria forma de estar e ser de cada personagem é completamente diferente. Augusto Gil era um republicano, um homem do século XX que está dentro do universo da poesia, o que nos permitiu enriquecer o trabalho através de inúmeros poemas da nossa literatura. Este ano também foi construída a personagem do Emmanuel de Mattos, um cicerone e entertainer bastante trapalhão que tinha sido chamado para representar o papel de Augusto Gil, mas que não conseguia resistir a falar também do seu trabalho e interrompia a história para vender os seus “espetáculos”. Já o Pedro era um cavaleiro sequioso de aventuras, um homem apaixonado, que gostava de cortar cabeças a espanhóis e andar a cavalo. As personagens são bastante distintas entre si, mas muito divertidas.
P – A proximidade com o público potencia muitos improvisos. Qual a história mais engraçada das visitas encenadas deste ano?
R – Aconteceram coisas bastante engraçadas, começando logo pelo facto das pessoas me verem na rua e muitas julgarem que o meu nome era Emmanuel de Mattos, a personagem que criámos para ser o “artista” contratado para fazer o papel de Augusto Gil. Este ano tive também um senhor que queria “à força” entrar no espetáculo: disse-me que sabia cantar, tocar instrumentos, representar, etc. E no final da visita, na parte dos agradecimentos, saltou para perto de mim na estátua do Augusto Gil e ali ficou comigo a agradecer ao público. Tive também uma senhora que, de vez em quando, vinha falar comigo a meio da visita e ficava a falar da minha voz, como é que eu aguentava falar tanto tempo e assim, e eu, a brincar, dizia-lhe que um dia tinha que me trazer um chá para a minha voz. Ela então foi a casa fazer um chá e trouxe-mo; e ali ficou comigo enquanto eu bebia o seu chá e continuava a representar.
P – Qual o balanço das visitas encenadas deste ano? Pensa repetir a experiência?
R – Penso que este projeto está extremamente bem concebido pelo Américo Rodrigues e é produzido de forma muito competente pela sua equipa do TMG. E, além disso, tem tido a sorte de contar com uma encenadora como a Antónia Terrinha, já com uma larga experiência neste tipo de trabalhos e que tem feito um trabalho brilhante. Eu tive a felicidade de poder colaborar neste projeto já por duas vezes e teria todo prazer em voltar a fazê-lo. Acho que é uma iniciativa bastante importante para uma cidade como a Guarda e de uma qualidade inquestionável.
P – Que projetos tem em vista a curto prazo?
R – Vou começar a ensaiar um espetáculo novo agora em outubro, com estreia em novembro. Um espetáculo que será construído a partir das histórias de vidas de pessoas reais de um bairro típico de Lisboa. Será um espetáculo da coreógrafa Madalena Vitorino e parece-me que será uma experiência única. Quem estiver por Lisboa é melhor estar atento.