Já tinha lido sobre o assunto mas não queria acreditar. Aparentemente, as teorias da conspiração sobre a ida do Homem à Lua, em 1968, começam a ter tanta credibilidade como a história oficial. Se não acreditam, experimentem uma busca no Google sob “Landing on the Moon”, ou “Alunagem”, ou “aterragem na Lua”. Entre os primeiros resultados disponíveis, aparecem os sites em que se acredita que Buzz Aldrin ou Neil Armstrong nunca pisaram a Lua e que a filmagem que a televisão passou tinha sido uma produção de Hollywood. Argumentos? Que as fotografias não mostram as estrelas no firmamento; que a bandeira americana ondulava, apesar de na Lua não haver atmosfera – nem, por isso, vento; que as sombras não coincidiam com as fontes de luz. Tudo muito estranho e muito suspeito.
É claro que muitas destas objecções não resistem a uma breve análise: não é possível reter na película ao mesmo tempo algo muito escuro, como a noite lunar, e algo muito brilhante, como a luz de algumas estrelas, sobretudo quando a Terra reflecte directamente a luz do Sol sobre a cena fotografada; o esforço para espetar no solo a bandeira americana imprime-lhe um movimento que aparenta uma ondulação provocada pelo vento. Mas qual é o interesse da verdade perante uma boa e suculenta mentira? O mais divertido de tudo isto é que, bem explorados os sites da teoria da conspiração sobre a alunagem, e respectivos links, rapidamente se descobre que os mesmos que não acreditam na ida do Homem à Lua acreditam, em contrapartida, noutras coisas. Acreditam que as figuras desenhadas nos campos de trigo são criadas por extra-terrestres, que os Illuminati querem dominar o Mundo (com ou sem a ajuda do Grupo de Bilderberg) ou que os americanos enforcaram um sósia de Saddam. Um pouco mais e acreditavam que há crocodilos nos esgotos, que o Elvis está vivo, tal como o Hitler (agora com mais de cem anos) e que a Atlântida é debaixo dos Açores. Ou então que a gripe mexicana é uma invenção dos laboratórios farmacêuticos, que o 11 de Setembro foi arquitectado pela CIA e que o Holocausto nunca existiu.
Podem julgar que isto tudo não tem grande importância e que só acredita quem quer, mas imaginem uma criança a pesquisar na Internet para um trabalho escolar e a verificar que as teorias da conspiração, com toda a sua burrice e superficialidade, têm a mesma visibilidade, e por isso credibilidade, que a opinião, a verificação e os estudos de cientistas e académicos das mais prestigiadas universidades. Mais inquietante ainda é saber-se que as mães dessas crianças, quantas vezes professoras, médicas, advogadas, se juntam com outras mães (e pais) e acreditam em coisas como “mal de inveja”, bruxas, mau “olhado” e outras parvoíces (como por exemplo a influência dos astros, no sentido em que o facto de um conjunto de estrelas se parecer vagamente com um carneiro faz com que as pessoas que tenham nascido quando essa constelação estava no topo do firmamento tenham as características gerais de um carneiro).
Perante tudo isto, perante a disseminação incontrolada de tanta estupidez entre quem deveria estar-lhe imune, até parece que estamos a entrar noutra idade das trevas e a regredir do conhecimento científico para o pensamento mágico. É tudo muito triste e muito embaraçoso mas, pelo sim, pelo não, que tal um sortilégio bem feito para sairmos da crise?
Por: António Ferreira