1. 40 anos de Democracia e parece que tudo não passou de um enunciado de princípios vagos e boas intenções, rapidamente perdidas, numa semântica de oportunidades e conveniências.
Por duas vezes estivemos na eminência de falência financeira.
Por três vezes, fomos forçados a fazer um caminho sob vigilância internacional.
Aprendemos alguma coisa?
40 anos de democracia era tempo suficiente para nos encontrarmos como Povo, como Nação, com destino definido e uma estratégia firme.
40 anos de democracia deveria ter permitido aos Partidos Políticos adquirirem maturidade, fazer da convergência a regra e da dissonância a exceção.
Aprendemos com a história destes 40 anos alguma lição de vida?
2. O que se está a acontecer com o processo político da Comunidade Intermunicipal da Beira e da Serra da Estrela, conhecida popularmente por CIM é paradigmático da falta de maturidade e bom senso, com que as coisas deveriam ser tratadas.
O início do processo parecia apontar no sentido de uma decisão sensata, pois os Presidentes de Câmara eleitos pelo PS e PSD , entenderam-se quanto a Presidência e Vice Presidências da CIM, repartindo com critério e assertividade as respetivas funções.
Já quanto a escolha dos secretários executivos, depois de uma primeira decisão ponderada do ponto de vista do equilíbrio partidário, sucedeu, que a proposta final, por demérito de todos, recaia apenas num Partido, o que não foi uma decisão sensata como se viu depois.
A esta tonteria respondeu o aparelho do PS na Assembleia Intermunicipal com outra igual de sentido contrário.
Ao invés do que tinha acontecido no mandato anterior em que a Mesa tinha sido presidida por um socialista, no quadro de uma maioria de câmaras do PSD, e a composição da Mesa, repartida pelos representantes dos dois Partidos.
Estas decisões são corolário da renovação autárquica que aconteceu nas últimas eleições, sendo que, sendo sempre salutares do ponto de vista democrático, conduzem inevitavelmente a soluções menos consensuais.
Mas também são expressão do equilíbrio que existe nos novos órgãos autárquicos entre o Executivo e o Órgão Deliberativo.
O que significa, que a governabilidade da CIM terá que se encontrar, no entendimento entre o PS e o PSD, mas também no equilíbrio entre o Órgão Executivo e o Órgão Deliberativo.
Porém, o que se passou na ultima Assembleia da CIM evidência duas lógicas políticas bem diferentes.
No Órgão Executivo os Presidentes de Câmara conseguem numa lógica corporativa um entendimento mais fácil, enquanto que no Órgão Deliberativo da CIM assenta exclusivamente numa lógica partidária.
Caminho bem perigoso. Aprendemos alguma coisa?
3. As CIM deveriam assumir-se como as estruturas de base regional em matéria de planeamento e desenvolvimento da região.
Era importante que reivindicassem esse papel. Que defendessem esse Estatuto!
Mas também aqui, quando se trata de assumir um desafio desta natureza, não podemos pensar que a responsabilidade de desenhar o futuro da região cabe apenas a um Partido, seja qual for!
É importante que o PS e o PSD se entendam, ponham de lado divergências e pequenas lógicas de poder, ao serviço da região e das pessoas.
40 anos de democracia.
Um caminho feito de dificuldades e desafios.
O mesmo Povo. A mesma Nação.
E continuamos sem aprender?
Por: Júlio Sarmento
* Inicia colaboração mensal. Júlio Sarmento é presidente da Comissão Política Distrital da Guarda do PSD
