P – Este início de época do Sporting da Covilhã está a superar as suas melhores expetativas iniciais?
R – A palavra superar leva a pensar que não se acreditava no que poderia acontecer. Pode parecer agora pretencioso falar mas sempre acreditámos que era possível fazer uma equipa interessante de ilustres desconhecidos. Acreditávamos que era possível fazer um trabalho interessante e foi isso que viemos a constatar logo no trabalho da pré-época que é muito importante e temos vindo a confirmar isso nas sucessivas jornadas. Não começámos bem o campeonato com duas derrotas consecutivas mas isso ainda mais atesta a capacidade desta equipa em ultrapassar as adversidades dos resultados. O que mais enaltecia nesta altura é que após um início que não foi interessante veio um ciclo que é o melhor do Covilhã até agora com quatro vitórias seguidas, mas também temos consciência que ainda não temos nada feito. Temos é de falar do que já foi feito e a história faz-se do que se vai fazendo e nesta altura estamos perfeitamente imbuídos num espírito forte, conscientes do que ainda nos espera mas também conscientes do que já fizemos.
P – Já fez história ao conseguir ser o primeiro treinador na vida do clube a conseguir quatro vitórias consecutivas. É possível lutar por algo mais que a manutenção?
R – Esta equipa tem como objetivo o próximo jogo e não vamos alterar rigorosamente nada no nosso discurso. Vai ser sempre assim. O nosso próximo jogo, independentemente do resultado anterior, é o mais importante. Vou usar o chavão habitual de que as contas fazem-se no final. Sei também que a maior parte das pessoas até desconfia do que de bom temos feito, às vezes até parece que é um pecado. Para os mais céticos e mais críticos ainda poderíamos estar melhor, mas para os mais compreensivos ou mais conscientes em relação às nossas condições orçamentais e à projeção do próprio plantel estamos a fazer um excelente trabalho. Há sempre duas visões. Depende de quem nos vê. Quem gostar muito de nós até diz que estamos a fazer um excelente trabalho, quem não gostar tanto diz que podíamos fazer melhor. Nós queremos fazer melhor, mas há que ter consciência que nesta altura, num universo de 22 equipas, há 19 que, de certeza absoluta, queriam fazer o que estamos a fazer. Quanto menos tivermos que olhar para cima e mais tivermos que olhar para baixo melhor será.
P – Há algum jogador que destaque em particular neste excelente arranque de época?
R – Não. Temos que destacar principalmente o coletivo. É o coletivo que tem sido a base do sucesso. Até mesmo os jogos que perdemos fizeram parte de um determinado processo. Pode parecer demagógico, mas estou muito mais contente por termos duas derrotas consecutivas e depois quatro vitórias consecutivas do que o inverso. Estivemos muito perto de alcançar a quinta vitória consecutiva porque a cinco minutos do fim do jogo com o União da Madeira estávamos a ganhar, mas o que é certo é que já há cinco jogos que não perdemos. Em cinco jogos sofremos dois golos e a individualidade não pode, de forma alguma, sobrepor-se ao coletivo. Somos a terceira melhor defesa e o quinto melhor ataque. São vários itens que atestam o que é um trabalho coletivo e nunca um trabalho individual.
P – Como viu o sorteio da Taça da Liga? O Covilhã pode bater o Olhanense?
R – Sorteio é sorteio. As dificuldades foram feitas para serem ultrapassadas e só temos que tentar fazer o nosso melhor. Estamos em todas as provas e em todas as frentes. É um adversário de Primeira Liga com argumentos fortíssimos, com grande capacidade e só temos que humildemente tentar fazer com que na prática o mais forte não consiga colocar em campo essa capacidade teórica. É um desafio aliciante por duas ordens de razões. Primeiro, vamos jogar com um primodivisionário, uma equipa de um escalão superior, e ponto número dois, já batemos um recorde e queríamos ver se na Taça da Liga também conseguíamos chegar mais à frente. Costumo dizer que há determinadas etapas nesta época que são extras. São os chamados prémios-extra que poderemos dar a todos os adeptos. Tínhamos algumas prioridades no início da época. Uma delas era a passagem na primeira fase de grupos da Taça da Liga, até pela contingência económica. É evidente que se tivéssemos a sorte de passar à fase de grupos financeiramente era uma época já ganha. Em termos desportivos não diria ganha porque ainda falta o nosso campeonato, que é o nosso primeiro objetivo, mas era mais um passo importante, mas o seu a seu dono. Vamos com calma e tranquilidade.
P – Teve uma passagem fugaz pela Primeira Liga. É um campeonato onde tenciona voltar a treinar?
R – Claramente. Sou o único treinador em Portugal que já treinou em todas as divisões, desde camadas jovens, a Iª Distrital, Divisão de Honra Distrital, IIIª Divisão Nacional, IIª Divisão B, IIª Liga e Iª Liga. Foi uma passagem fugaz pela Primeira Liga mas muito importante para mim. E estou imensamente orgulhoso de ser o “pai” de uma equipa que curiosamente depois foi finalizar essa época com um homem da Covilhã, o Ulisses Morais, e que foi das épocas mais tranquilas da história da Naval. Foi a época em que mais contributo financeiro teve. Vendeu 2,5 milhões de contos através de jogadores que foram contratados por mim e quando saí à quarta jornada, curiosamente, o Guimarães que foi à Liga dos Campeões, tinha mais um ponto que a Naval. Saí com a equipa mais rematadora do campeonato à frente do Porto, Sporting e Benfica mas quero lá voltar se Deus quiser. O meu sonho pessoal é voltar à Primeira Liga e não queria ir para um clube que já lá estivesse. Queria sinceramente voltar à Primeira Liga pelo meu pé. É o único escalão em que me falta subir.
P – Acredita então que é possível concretizar esse sonho com o Covilhã?
R – Não podemos passar do oito para o oitenta de um momento para o outro e é importante as pessoas saberem o que cobrar. Até pode acontecer porque todos os anos há um outsider, mas isso é uma questão já meramente filosófica e não temos que ter essa ideia. Se estivéssemos na posição em que estamos a seis ou sete jornadas do final é evidente que não tínhamos que andar a esconder fosse o que fosse, mas essa não é a realidade. Há um caminho enorme para percorrer. Queremos é, pelo menos, conseguir uma coisa que há muitos anos o Covilhã não tem que é tranquilidade e, se calhar, fazer sonhar alguma coisa mas esse sonho não pode estar na cabeça das pessoas como exigência. Tem que haver calma, tranquilidade e o que é importante é somarmos pontos.