P – O concurso de instrumentos de arco “Júlio Cardona” já se consolidou nacional e internacionalmente. A que se deve este sucesso?
R- Ao longo destas cinco edições o concurso foi-se consolidando, com destaque para a última, não só pela qualidade dos participantes, como pela quantidade de concorrentes. Inscreveram-se nessa altura 99 músicos, quando só podiam ser aceites apenas os primeiros 60. Penso que não é o prémio que faz vir até à Covilhã pessoas de tantos países diferentes, mas principalmente a possibilidade que têm de participar e serem testados num concurso que ganhou fama internacional como sendo de alto nível. É isso que leva os músicos a participarem e é também esse parâmetro que leva à desistência de alguns participantes, mesmo depois de terem sido aceites a concurso, porque acham que não estão capazes de se submeterem à prova.
P- E isso já aconteceu nesta edição?
R- Sim. É normal haver desistências. Já nas edições anteriores aconteceu. Há pessoas que desistiram por motivos de doença, outros não explicaram porquê.
P-A que se deve este grande nível de qualidade do “Júlio Cardona”?
R-Primeiro, ao próprio programa escolhido para os concorrentes executarem. Depois, deve-se também ao critério do júri, que é rigoroso. E isso faz com que as pessoas tenham alguma credibilidade nas avaliações finais e na entrega dos prémios.
P-Está satisfeita com o sucesso que o concurso já alcançou?
R-Sim. Tenho a impressão que o país, e a cidade em concreto, ainda não se aperceberam da importância que este concurso já tem a nível internacional, nem do nível dos concorrentes que estão em prova. Costuma-se dizer que “santos da casa, não fazem milagres”, e não sei se as pessoas pensam que não tem importância por ser um concurso numa cidade do interior. Só o tempo poderá mudar essa noção.
P-A obrigação de todos os concorrentes executarem uma peça musical de um autor português ajuda a difundir a música clássica nacional?
R-Essa é a nossa ideia, se bem que não é fácil concretizar esse objectivo pois a Sociedade Portuguesa de Autores não nos facilita a vida e cobra quantias bastante elevadas aos concorrentes. Além de que também cobra à organização pela execução que cada concorrente faz dessas mesmas peças.
P-Em cada edição, opta-se pela modalidade de viola ou de contrabaixo. Porquê?
R-Isso são opções que a organização faz por uma questão de custos. O que gostaríamos era ter as quatro modalidades em todas as edições. O violino e violoncelo nunca poderão ser cortados porque são os instrumentos que têm mais concorrentes. Nas outras duas modalidades, viola e contrabaixo, teremos que alternar enquanto estivermos limitados de orçamento. Na edição passada tivemos a modalidade de contrabaixo, este ano optamos pela viola.
P-Acha que na próxima edição, daqui a dois anos, será possível ter as quatro modalidades a concurso?
R- Era o que gostaríamos, mas só nessa altura saberemos se é possível ou não. Também gostaríamos, por exemplo, que os concorrentes da classe A tocassem acompanhados de orquestra nas provas finais. Mas isso implica muitos custos. Pode ser que daqui a algumas edições o consigamos.
P-Como está o processo de retomar o concurso de piano?
R-Esse desafio foi lançado pela Câmara da Covilhã, que pediu há dois anos à delegação para retomar o concurso de piano. Não se realizou por falta de candidatos que justificassem o investimento. O concurso de piano teve uma grande expressão a nível internacional e é sempre difícil retomar depois de ter havido um corte durante alguns anos. Por outro lado, o piano já foi o instrumento estudado por excelência, porque agora penso que não haverá, como antigamente, muitos candidatos. Neste momento, não sei se a Câmara quererá retomar essa iniciativa no próximo ano.
P-E projectos futuros da Delegação da Covilhã da Juventude Musical Portuguesa?
R- Temos um projecto, ainda em fase embrionária, que é retomar os concertos ProArte. A ideia era juntar um conjunto de concelhos que tivessem as condições necessárias, nomeadamente um piano, e realizar um concerto em todos eles. Ou seja, o quarteto, trio ou solista que contratássemos actuava não só na Covilhã mas em todos os municípios que integrassem esse acordo. O que permitiria reduzir o “cachet” e dividir os custos entre todos.