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«É necessário que os olivicultores mudem as mentalidades»

Investigadores da Estação de Olivicultura de Elvas abordaram os problemas e as soluções para o sector

Não são precisas grandes soluções para alterar o cenário negro da olivicultura na Beira Interior. Basta apenas que os «olivicultores mudem as mentalidades». Esta foi a principal ideia defendida pelos investigadores da Estação de Olivicultura de Elvas no primeiro encontro com os olivicultores da região, organizado pela Confraria do Azeite da Cova da Beira (CACB) no passado sábado na Biblioteca Eugénio de Andrade, no Fundão, sob o lema “Queremos produzir azeite de qualidade”.

«O grande problema da Beira Interior é a pequena dimensão das explorações agrícolas, e isso impede que haja a mecanização dos olivais», salienta Luís Santos, para quem o panorama da olivicultura local apenas poderá mudar a partir do momento em que os produtores «tomarem consciência de que hoje em dia um olival com menos de 30 ou 50 hectares é um quintal». Para este responsável, a solução passaria por uma «agregação de meia dúzia de olivicultores para poderem fazer a mecanização, pois os preços das máquinas não se compadecem de pequenas explorações», garante. Uma alternativa que permitiria não só melhorar a rentabilidade da produção, como «garantir uma maior qualidade da azeitona entregue no lagar e a qualidade do azeite», salienta, pois actualmente há pouca gente para a apanha da azeitona, o que leva os olivicultores a entregarem a azeitona apenas quando têm uma quantidade suficiente. «Mas nessa altura, ela já está a deteriorar-se», indica.

«Com uma certa dimensão, os produtores teriam todos os dias carradas de azeitonas para levar ao lagar, podendo assim ser automaticamente laborada», explicou, considerando que quem não quer repartir com ninguém «só se prejudica». Também Cidália Peres, investigadora principal do Instituto Nacional de Investigação Agrária e das Pescas (INIAP) e chefe do departamento de olivicultura da Estação de Elvas, defende a necessidade de uma «mudança de mentalidades» para que o azeite português possa competir com os grandes produtores os espanhóis, italianos e gregos. Mas para isso há que apostar na qualidade. «Não somos capazes de competir com quem tem extensões enormes de olival e uma capacidade de produção superior à nossa. Temos é que investir na qualidade e na diferença do nosso produto», sustentou, sugerindo a aposta na azeitona galega, tipicamente portuguesa e muito produzida na Beira Interior e Alentejo. «Possui características organoléticas que não existem noutro sítio do mundo. Temos aqui uma oportunidade de nos demarcar pela diferença e pela aposta em novos produto», refere. O colóquio teve como objectivo dar a conhecer as tecnologias e inovações necessárias ao sector, «nomeadamente os sistemas de colheitas, poda, novas variedades para azeite e conserva, compassos de plantações, formas de condução e tratamentos sanitários», destaca o grão-mestre da confraria, Joaquim Afonso Sanches, lamentando a falta de participação dos olivicultores da Cova da Beira.

Liliana Correia

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