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É necessária a genuína construção de pontes

Crónica Política

Muitos afirmam que são todos iguais, mas é necessário entender a dimensão sociológica dessa afirmação, mais ainda quando os interlocutores têm responsabilidades na eleição de deputados que sustentam as mesmas políticas ao longo dos sucessivos governos constitucionais.

Foco-me na dimensão da política de esquerda que, para lá da retórica e das proclamações de alguns, lhe dá expressão concreta onde devemos inscrever como objetivos centrais a efetiva valorização do trabalho e dos trabalhadores, a efetivação dos direitos sociais e das funções sociais do Estado, a promoção da igualdade e a justiça social, o controlo público dos sectores estratégicos nacionais, numa palavra as verdadeiras conquistas de Abril só foram corporizadas pela força do Povo. Não devemos esquecer os governos provisórios que, até 1976, consubstanciaram a defesa dos trabalhadores e das camadas e sectores não monopolistas, não podemos esquecer as nacionalizações, numa palavra as principais ilações, em si mesmo articuladas e inseparáveis, a verdadeira força do povo extraiu do poder o poder de transformar.

Volvidos estes anos assistimos a explosão do caso dos “vistos gold” e da situação que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates. São novos episódios numa sucessão de casos que atingem a vida nacional, como a falência do BES/GES. A proliferação de atividades ilícitas e danosas que têm vindo a lume não podem ser desligadas da natureza da política de direita – e chama-se à atenção para as manobras que visam questionar a Justiça e condicionar o seu funcionamento. A extensão e profundidade do processo dos “vistos gold”, envolvendo figuras de topo da estrutura do Estado e conexões com membros do governo e dirigentes do PSD, põem em evidência o que para aqueles que afirmam que são todos iguais, persiste mais uma vez o tempo a dar razão ao PCP, este partido previu e alertou que os “vistos gold” estão, sobretudo, concebidos para atrair e favorecer esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro e branqueamento de capitais.

Eu não fico contente só porque os comunistas têm sempre razão, é necessário que os portugueses ganhem a razão para a ação e construam um caminho alternativo com o contributo de todos. A verdade não é de alguns, porque há verdades que cada um constrói e estas têm balizas políticas e ideológicas, há apenas o necessário sobressalto para outro caminho, com soluções e repostas para os problemas nacionais não só compatíveis como indispensáveis para construir um futuro de progresso, justiça social e desenvolvimento.

Precisamos efetivamente de projetar ainda com mais nitidez a política alternativa, patriótica e de esquerda que propomos e queremos construir assente na auscultação social, numa genuína construção de pontes com aliados das lutas na defesa dos serviços públicos, contra as portagens na A23 e A25, na defesa dos CSP, das freguesias, dos Correios, é esse genuíno e infindável Povo que nos momentos concretos decide, para construir o caminho com o aliado de sempre numa política – cujos eixos essenciais, propostas e soluções – sejam construídos na assunção de um compromisso claro do envolvimento de mais e mais portugueses para que se identifiquem, apoiem e a tomem como sua, uma política vinculada aos valores de Abril, esta que foi nossa e é imprescindível reconquistá-la.

Por: Honorato Robalo

* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP

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