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«É fundamental tornar a falar do valor no voto, a grande “arma” que existe na República e na democracia»

Cara a Cara – Entrevista: Maria João Fagundes

P – O que sentiu com a recriação da implantação da República, feita esta segunda-feira na Escola da Sequeira?

R – Achei muito interessante a forma como estes jovens aderiram. Eles próprios estavam muito empenhados e viu-se claramente a dedicação que a escola e os professores tiveram, porque só assim se pode fazer aquilo que aqui se fez. Também houve muitos pais, o que quer dizer que quando as pessoas se mobilizam, podem ser feitas coisas muito importantes e bonitas que dizem respeito a valores. Emocionei-me quando foi tocada “A Portuguesa”, porque é o hino da nossa nação e é um símbolo da República.

P – Sempre teve a noção que a sua bisavó teve um papel fundamental no movimento republicano português?

R – As memórias das famílias são sempre muito importantes. Quando se falava da bisavó Carolina era sempre de uma pessoa que tinha as suas características e que marcou a vivência familiar e os ideais da família, estando ligada à história nacional. Isso sempre foi algo muito valorizado em casa, que me foi transmitido e que eu faço questão de transmitir ao meu filho. O Movimento Republicano e os ideais da República são indissociáveis dos nossos valores familiares.

P – E os princípios do Republicanismo não estarão neste momento a ser subvertidos?

R – Não sei se estarão a ser subvertidos. O que me parece é que são fundamentais, e o facto de os podermos desvalorizar só acontece porque estamos numa república e em democracia. Agora, numa altura em que há uma taxa de abstenção tão elevada, é fundamental tornar a falar do valor no voto. Nesse sentido, podemos fazer outra vez a ligação a Carolina Beatriz Ângelo, porque todas as pessoas podem dizer – em igualdade de circunstâncias – aquilo que pensam e aquilo que desejam.

P – Nesse sentido, não sente que os portugueses estão a abdicar do seu papel em democracia, um dos princípios fundamentais da República?

R – Como dizia, ao nível do voto, isso tem-se notado, porque é uma forma muito importante de liberdade. Desperdiçar isso é desperdiçar a grande “arma” que existe na República e na democracia. Por outro lado, vivemos numa sociedade competitiva. Os valores da República iam muito de encontro à igualdade e fraternidade, mas também, à saúde, à justiça e ao conhecimento. Estas foram as mais-valias que a República trouxe e que não existiam antes. Numa sociedade onde há menos oportunidades, isso é algo do qual nós não podemos abrir mão.

P – Qual é a sua ligação com a Guarda neste momento?

R – É sobretudo afectiva. Eu nasci e vivo em Lisboa, o meu pai – neto de Carolina – era de Lisboa, bem como a minha avó – filha de Carolina. Portanto, nós somos lisboetas há várias gerações. No entanto, a Guarda continua a ser o berço da minha bisavó e, quando o meu filho nasceu, a Guarda foi o primeiro sítio onde ele veio, porque a identidade de cada um também é a identidade dos seus antepassados. A cidade está a acarinhar muito a figura de Carolina Beatriz Ângelo e, nesse sentido, a minha ligação à Guarda é também de agradecimento às entidades e aos cidadãos desta cidade.

Maria João Fagundes

«É fundamental tornar a falar do valor no
        voto, a grande “arma” que existe na República e na democracia»

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