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E depois das promessas

Pontos nos Is

Nos últimos anos fomo-nos habituando a conviver com os problemas do Hospital como actores, não apenas porque os problemas da saúde dizem respeito a todos, mas também pelo exagero com que tudo o que diz respeito à unidade é discutido na praça pública.

A pediatria da Guarda conquistou os telejornais. O movimento cívico chorou em nome das crianças. Atacou-se o profissionalismo da pediatra Luísa Pedro e a senhora, por entre lágrimas, pirou-se. (Pelo meio, os socialistas fizeram em tempo recorde uma helipista e receberam o helicóptero com champanhe e fogo de artificio. O “heli” saía caríssimo! Quase não levantou voo, ou antes, ia voando com o vento, numa noite de vendaval, senão o amarrassem a umas velhas árvores que alguém, enquanto fazia a pista, se esqueceu de cortar. Ah! O “heli” acabou por voar para fora da Guarda. Pois claro! Quem também voou foi a empresa que comprou o aparelho a leasing, convencida de estar a fazer o negócio do século. Correu mal. Mas quem os mandou acreditar em políticos?). Os poucos pediatras trataram de assegurar os serviços como puderam. E puderam muito. E com muitas horas extras que saíram escandalosamente caras. Teve que ser.

Depois, chegou uma nova administração.

Que alivio!

É que, além de ser contra o despesismo em voos, em champanhe e em horas extraordinárias a nova administração garantia a resolução de todos os males do Sousa Martins. Ainda por cima iriam expurgar a maior das doenças: o velho e horrendo hospital daria passo a uma nova e moderna unidade.

Uff! Agora sim! Já todos podíamos ficar doentes. Mesmo que o SNS funcione mal; que o país esteja de tanga; que haja falta de médicos; …, em qualquer dos cenários, os males do Sousa Martins passaram à história. Garantiam-se novos médicos, os pediatras chegavam à meia dúzia, despontavam os Cuidados Intensivos, a TAC atacava com uma nova radiologista – já que mais não fosse para encostar a “oportunista” que, durante anos, “minou” o sistema em proveito próprio…

Esta era a imagem que se pretendia passar. Um hospital a funcionar muito bem e em que tudo o que estava mal era por culpa de forças de bloqueio (que no Sousa Martins não são figura de retórica, existem mesmo). Mas depois… Bom:

Os novos pediatras vieram com bilhete de ida e volta, nem conheceram a cidade, uma pena. A TAC, por quem todos bradaram, não cabia no cubículo que lhe destinaram. Lá se fez mais um apêndice. Mas de pouco serviu. Os “milhões” consumidos não impedem que outros milhões sejam gastos em viagens a Coimbra e facturas da CEDIR. A nova radiologista meteu baixa e foi para o Porto. Os “By-Pass” servem a estatística…

Afinal, tudo continua na mesma. Ou talvez pior. Em risco estão alguns serviços e valências. A urgência pediátrica pode mesmo encerrar em breve. Mas o pior, é que os rumores falam do encerramento da Maternidade. E, isto sim, é ferir o orgulho dos guardenses, cujos filhos passarão a ser naturais de outras terras.

Luís Baptista-Martins

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