Arquivo

E agora que fazemos?

Observatório de Ornitorrincos

Um Observatório pode ser também um interveniente. Tal como o Presidente Sampaio, esta semana não me apetece ficar a olhar para o país. Quero intervir em assuntos graves e importantes. E por isso, peço desculpa ao leitor que aqui procurava momentos de distracção. Hoje, nesta coluna vão ser propostas algumas soluções que o autor considera importantes para resolver a crise séria que o país atravessa e o problema principal com que finalmente nos deparámos esta semana, após uma temporada de anestesia futebolística colectiva. O que fazer agora com tanta bandeira portuguesa pendurada nas janelas e nas antenas dos carros? E com as cuecas com as cores nacionais compradas durante o Euro?

O Prof. Marcelo sugeriu que se deixassem ficar as bandeiras penduradas até aos Jogos Olímpicos de Atenas, que começam daqui a um mês. E por que não ser mais audaz? Até aos próximos Campeonatos do Mundo de Atletismo, que são para o ano que vem. Ou até ao Mundial de Futebol na Alemanha, em 2006. Mas pode ser contraproducente andar aí a fazer grande alarido por causa de uns jogos mafarricos que se vão disputar na Grécia. Já se percebeu que dos gregos não se pode esperar nada de bom, a não ser que fiquem sempre à frente de Portugal, seja nos jogos de futebol, seja na cauda da Europa.

Mas porquê deixar as bandeiras penduradas? Seria muito melhor dar-lhes algum uso activo. E não estou a falar de tapar Fátima Preto. Por exemplo, as bandeiras (mesmo as que têm castelinhos arredondados) podem servir para frescas colchas de Verão. Não ficam com toda a certeza mais pirosas que as boas colchas de renda das típicas casinhas lusitanas. E sempre dá um ar colorido ao leito. Para as meninas (e rapazes amaneirados, não que eu tenha alguma coisa contra), a bandeira pode servir de pareo para levar para a praia ou de saia para sair à noite, embora neste caso se aconselhe dobrá-la em seis antes de pôr à volta da cintura, não vá tapar mais de um terço das coxas, e nós não queremos as portuguesas fora de moda. Se usarem também um cachecol da selecção como top, temos um conjunto perfeito e permite a todos os rapazes usar a clássica frase ensinada pelos nossos pais para situações de desespero com a menor exuberância visual de alguma moça, “tapa-se com a bandeira nacional e é pelo amor à Pátria”. Espera-se dos portugueses nestas semanas que se seguem uma capacidade criativa no mínimo superior à dos 24 líderes europeus que convidaram o nosso ex-primeiro-ministro para Bruxelas.

Outro assunto que perturba a nação é a posterior ausência de caravanas de carros e carrinhas de caixa aberta, com as respectivas buzinadelas e bandeiras. Na esteira do Prof. Marcelo, queria apelar a todos os portugueses (ou pelo menos aos três que lêem o Observatório) que se manifestem nas ruas de todo o país sempre que uma selecção de Portugal ganhe qualquer evento desportivo, da Liga Mundial de Voleibol ao Campeonato Mediterrânico da Bisca Lambida. Só assim poderemos manter o nosso patriotismo e/ou nacionalismo arrebatado e resplandecente. Só com esse espírito caravanístico Portugal conseguirá aumentar a produtividade, melhorar os índices de alfabetização ou diminuir o défice. Dr. Santana Lopes, contamos consigo para liderar os portugueses na grande festa de bandeiras e buzinas em que precisamos de transformar este país.

EU VI UM ORNITORRINCO

Otto Rehaggel

É um ornitorrinco sazonal. Esteve um mês fora da toca e agora regressa para debaixo da terra. É um bicho medricas que se defende muito bem das espécies inimigas. Enerva-as com a confiança absoluta na sua sorte descomunal. Quando os outros bichos se começam a aborrecer, espeta-lhes uma traulitada vinda de um canto e deixa-os atordoados. No fim, fica sempre com a fêmea. O mundo é dos espertos, até nos ornitorrincos.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

Sobre o autor

Leave a Reply