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É a economia e não só

A maioria das profecias de Marx nunca se concretizou. Todavia, isso não impediu que a ideia central de Marx vingasse: é o dinheiro – a economia – que faz girar o mundo. «É a economia, estúpido», como dizia o outro.

Niall Ferguson, em “A lógica do dinheiro”, tenta contrariar e desmontar este determinismo económico. A economia é importante? Com certeza. Mas não passa de um dos elos na «longa e emaranhada cadeia da motivação humana». O Homo Economicus – alguém que visa maximizar constantemente a sua utilidade com cada transação – continua a ser uma “raridade” e, para muitos, é uma aberração, uma “monstruosidade”.

Vejamos um dos casos concretos analisados por Ferguson. Hoje, faz parte da nova sabedoria do senso comum a ideia de que a popularidade do governo depende do desempenho económico – rendimentos reais, emprego, inflação, taxa de juro. E os políticos são os primeiros a acreditar acriticamente nesta “verdade axiomática”. Mas serão as coisas assim tão simples? Será que mais prosperidade é sempre equivalente a mais popularidade? E a recessão implica sempre impopularidade?

Ferguson pega no caso britânico e chega à conclusão de que não se pode estabelecer uma relação de causalidade estável entre o sucesso económico e o sucesso político. Por duas razões. Primeira, as tentativas políticas para manipular o ciclo económico saem muitas vezes furadas, aparecendo muitas vezes consequências que ninguém previu. Segunda, os eleitores não se limitam a premiar os governos quando a economia cresce e a castigá-los quando isso não acontece.

No Reino Unido, entre 1832 e 1997, houve 50 mudanças de governo. Segundo Ferguson, apenas em quatro as questões económicas foram decisivas. Eis alguns exemplos relativamente recentes. Em 1983, o estado periclitante da economia britânica não impossibilitou que Thatcher voltasse a ganhar as eleições. Em 1992, com maus indicadores económicos, John Major ganhou as eleições; em contrapartida, perdeu-as em 1997 para Tony Blair, quando as coisas estavam notoriamente a correr bem economicamente.

Em suma, os eleitores estão longe de decidir apenas em função do dinheiro que têm a mais ou a menos na carteira.

Passos Coelho e António Costa fazem mal se centrarem o discurso apenas no passado, até porque já toda a gente conhece a ladainha. Na minha opinião, é mais vantajoso, para cada um, centrar o discurso no futuro. Isto não está para brincadeiras, e aos portugueses interessa perceber, por um lado, qual é o candidato que dá mais garantias em termos de competência e seriedade e, por outro, qual é o projeto mais consistente e credível.

Por: José Carlos Alexandre

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