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Dos cartazes

De acordo com a informação que possuo, o operário Jerónimo de Sousa, que ora se apresenta como candidato do PCP a 1.º Ministro, casou há 40 anos pela Igreja Católica.

O facto em si nada teria de extraordinário – pertenço a uma geração em que os pais casavam para uma vida e as famílias se mantinham solidamente como o ponto de partida e de chegada (caso houvesse grandes dramas) para quantos as integravam – mas menciono-o por quatro motivos:

– a consideração que, por esse aspecto de humanidade, Jerónimo de Sousa e seus familiares me merecem;

– a humanidade que pretendo subjaza às linhas que segue;

– a excelência que é viver numa cidade, a nossa, em que, em termos familiares, a hecatombe dessa Sodoma e Gomorra que Lisboa é ainda aqui não chegou – e que nunca chegue;

– um comunista ter a Igreja integrada na sua vida.

Posto isto vamos aos cartazes.

Um operário a 1.º Ministro!?… Mas onde estão os seus horizontes para tal!? Então que importância tem o que, sobre Política, escreveram Aristóteles, Platão, Agostinho de Hipona, Maquiavel, … ou que nos dizem as obras sobre História das Ideias Políticas!?

“Mais votos para mudar a sério”!? Desde o 25 de Abril cada vez mais pessoas voltam as costas aos comunistas e, por um milagre, uma infinita multidão vai dar-lhes agora mais votos?

E qual o paradigma para “mudar a sério”? O marxista-leninista? Mas não foi por ele que se assassinaram (de tiro na nuca ou por qualquer outro horrendo processo) c. 70 milhões de pessoas só com Estaline?

Ou seja: nenhuma fotogenia supera as limitações inerentes à rudeza do rosto do candidato, à sua estreiteza de horizontes para o posto a que almeja. Mais. Uma tal conclusão não é nenhum alarde de perspicácia.

É uma conclusão óbvia, isto é, das que se metem pelos olhos adentro.

O “Bloco de Esquerda” enviou um primeiro cartaz em que Santana e Portas riam excessivamente. Uma legenda: “Eles divertiram-se”.

Se o Bloco pudesse sentir a mínima consideração por si mesmo não editaria um tal cartaz. É tão revoltante que só um espírito inenarravelmente acanhado, faccioso, o podia emitir.

Surpreendente? – Absolutamente nada. É a lei do “vale tudo”, que leva, inclusivamente a colar um autocolante de tal força política no Multibanco exterior da CGD, como acabo de ver há minutos. Imundo e inestético, dir-se-lhes-á que não tomem a liberdade de se igualar aos outros.

Dois dos “patriarcas” do Bloco de Esquerda são o historiador (?) Fernando Rosas e o docente Francisco Louçã.

O recente desempenho de Louçã frente a Portas, na TV, motivou críticas violentas ao primeiro, quando como “fascista” – li-o em mais que um lugar – disse a Portas que não tinha um filho.

Há anos, na Casa Municipal da Cultura, em Coimbra, António Arnaut apresentou um livro sobre a Maçonaria. O historiador (?) Rosas estava na mesa (a sala estava absolutamente a abarrotar) e eu interpelei-o. Ficou tão atrapalhado que tartamudeou e, como consequência, um historiador e Professor Universitário disse-me depois: ” – Bem o embarrilaste!”

O segundo cartaz deste agrupamento político pretende ser incisivo – somos a “Esquerda de Confiança”.

Ora, a Esquerda nunca pode ser de confiança. – Porquê? A Esquerda é a inconsistência intrínseca. Mesmo pior. Afirma-se sempre como laica – e laicismo não tem sentido. É o “vale tudo” que a História nos ostenta.

Mesmo quando – na melhor das hipóteses – ela se afirma a generosidade e o empenhamento, não tem categoria para os fundamentar. E essa ausência de fundamento leva às maiores monstruosidades. Ao “Terror”, à mentira e ao assassinato durante a Revolução Francesa; ao terror, à mentira e ao assassinato durante e após o triunfo da Revolução Soviética.

Mas há mais. Se a cultura livresca e académica têm as limitações que têm, então, estimado e empenhado leitor, lembre-se apenas como é que os republicanos de Outubro resolveram o caso de Aldeia da Ponte, ou visite Clúnia.

Clúnia é absolutamente arrasadora e a suprema lição que tive sobre como o amor é incomparabilíssimamente mais difícil que o ódio – mas o único caminho. E lembrei-me da figura que fazia quando me dizia de Esquerda.

Outro horror é o cartaz de Sócrates. Sim, horror. O rosto de Sócrates é o de um mistificador intrínseco, insuperável. Ele não tem potência para nos convencer de nada. Quer é que não o descubramos no mais fundo de si mesmo, porque sabe, por um lado, que é um cerrado ignorante, por outro que há uma dimensão do seu íntimo que o atemoriza perante ele e, ainda mais, os outros.

Portugal vai “ter rumo”? – Claro, mas não com ele. Portugal vai “voltar a acreditar”? – Claro, mas não com ele.

Jamais se me deparou tão ingente contradição entre uma imagem e um texto.

Claro que Sócrates está às “mil maravilhas” no “PS”, essa catastrófica mistificação altamente responsável pela degradação em que Portugal se encontra.

Não foi um dos seus fundadores, Mário Soares, quem afirmou que “Em Política, feio é perder”? Não foi ele que declarou a um humilde praça da GNR que lhe fazia escolta: “Ó Sr. guarda desapareça”? Não foi ele que, sem qualquer hesitação, em 1980, apoiou Soares Carneiro contra Eanes em virtude do… ódio a Eanes? Não foi ele que espezinhou amigos de sempre, como Salgado Zenha? E que diz dele o livro de Rui Mateus? E etc, etc, etc…

E essa avantajada nulidade política que é Guterres não foi eleito Secretário-Geral com 96 % de votos? E tal e tal e tal?

Como é que Sócrates – perfeita emanação de tão ingente mistificação que é o “PS” – tem o desplante de se apresentar como se apresenta?

Santana afirma-se “a favor de Portugal contra ventos e marés”. Mas não foi/é ele próprio grande fautor dos “ventos e marés”, de que agora se queixa? É bem verdade que “atraímos para nós o que condenamos aos outros”. A JSD, no seu cartaz, diminui Sócrates. Mas a JSD devia saber que o ressentimento – no fundo, o que enforma o cartaz – é ódio e morte. Portanto, como ódio e morte geram ódio e morte, os malefícios cairão sobre os “jotas” e os outros.

No cartaz em que afirma o voto útil, Portas aí está abundante de trunfos:

– exalta – legitimamente – o resultado do seu próprio saber e esforço;

– a sua energia e bem-estar interior ressumam do seu retrato de pé;

– apresenta-se com a compostura própria das circunstâncias, sabendo que qualquer cidadão/cidadã composto/a muito bem interpretará o conjunto gráfico.

Com a exemplar clareza do seu espírito afirma que é no seu partido que deve votar-se, porque as eloquentes provas estão dadas.

É uma verdade evidente. Muito obrigado.

Guarda 29-I-05.

Por: J. A. alves Ambrósio

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