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Donald T.

Theatrum Mundi

Duas semanas após a tomada de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América, já se percebeu que afinal ele vai ser tudo aquilo que se temia que viesse a ser. E mais. A fúria de decretos presidenciais destes primeiros dias é sinal evidente de um populismo básico e daquilo a que se poderia chamar deriva autoritário-empresarial. Mas afinal esse foi sempre o seu programa, e na base do programa não está a adesão a uma ideologia mas uma estratégia. Não nos enganemos, Trump tem uma ideologia e ela é tanto mais sinistra quanto é forjada na interseção dos apoios em que se sustenta a sua presidência: a direita mais extrema, os conservadores mais retrógrados, os supremacistas raciais, os ultraliberais, os criacionistas e evangélicos mais radicais, o lóbi das armas e do petróleo, os anti-ambientalistas. Dificilmente se poderia conceber uma agenda política mais nociva e perigosa para a sociedade norte-americana e para mundo, dado o peso que as escolhas na maior potência mundial têm sobre o resto do mundo. Tanto assim que não é difícil ver essa convergência como a tempestade perfeita da política. Mas a essa agenda e ideologia sinistras junta-se uma estratégia populista de manutenção do poder: o culto narcisista da própria personalidade, a infantilização dos cidadãos através de uma comunicação simplista, a obsessão pela (in)segurança e pelos instintos mais básicos completamente desligada dos factos reais, o uso desabrido da mentira como realidade alternativa, o recurso a sucessivos bodes expiatórios para criar medo e dividir a sociedade, o desafio à divisão de poderes, o desprezo pelo processo legislativo regular e a pretensão de dirigir o país como se fosse a sua propriedade. Alguns dirão, “mas pelo menos é alguém que cumpre o que promete”. E aqui está precisamente a falácia em que muitos estão dispostos a cair. Quando as promessas de um político ferem de morte os valores mais básicos de uma sociedade (como aliás começam a invocar os juízes encarregados de rever as suas decisões), não se chama a isto cumprir a palavra dada mas trair os fundamentos da sociedade aberta e especular de forma vil com a sua coesão para radicalizar a base de apoio e reduzir a política a uma necessidade do seu ego.

Por: Marcos Farias Ferreira

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